sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Produtos Culturais da não-Indústria

Todos os artefatos humanos consistem em materializações de trabalho, eles incorporam o trabalho e percebem as suas intenções. Por um lado, a materialização do trabalho, um produto do trabalho, é um valor de uso. Como tal, um artefato tem utilidade para alguém, isto é, pode "servir" a necessidade individual ou coletiva de razão prática. O valor de troca de uma mercadoria depende da sua utilidade, bem como sobre as condições institucionais do mercado. Por outro lado, a materialização de trabalho é uma objetivação ou materialização de sentido ou significado. Como tal, articula-se com um artefato individual ou coletiva razão teórica ou senso estético. O valor de monopólio de um artefato depende da sua importância, bem como as condições institucionais que permitam preservar o monopólio.

Um pedaço de lenha ilustra o artefato em que se predomina a utilidade, um livro de filosofia é um artefato que predomina o significado. E um sempre poderia iniciar um incêndio com uma página de poesia, destacando a sua utilidade ao invés de seu significado poético. Os artefatos em que o significado predomina ao de utilidade, "produtos culturais". Em particular, trata-se dos produtos culturais que compunham a cultura popular na concepção de Adorno, incluindo cinema, horóscopo, jazz, revistas, rádio, novelas, seriados de televisão, internet, etc .

Como objetos culturais se tornam mais intercambiáveis, cada um decai em importância, perde sua "aura", daí decai na renda monopolista. Como o valor do bem cultural se baseia na renda de monopólio ou, num grau subordinado, sobre a utilidade do objeto, o valor do bem cultural deve declinar também. Isso não ocorre no capitalismo tardio, entretanto. "O que poderia ser chamado de valor de uso na recepção de bens culturais é substituído pelo valor de troca.”, através de um amplo processo de “fetichização”. O consumidor está pagando, e não para o produto, mas para a embalagem. Em vez de apreciações de valor com base nas qualidades do produto, as decisões sobre as qualidades do produto são baseadas em seu valor de troca, o seu preço, a sua classificação no “ranking”. Esta é a altura do fetichismo da mercadoria.

Pode-se argumentar que a padronização do produto cultural no capitalismo é tecnologicamente determinado, o mesmo que um produto industrial, como uma caixa de sucrilhos. Horkheimer e Adorno começam por analisar e rejeitar a alegação de que a padronização, a identidade da cultura de massa, pode ser explicada em termos tecnológicos. Tecnologia atinge o seu poder, apenas com o poder dos monopólios e grandes corporações. As indústrias mais poderosas, bancos, produtos químicos, eletricidade, petróleo, aço, produtos virtuais, o controle dos monopólios culturais, que são "fracos e dependentes em comparação. O último a produzir e comercializar à cultura de massa.

A padronização do produto cultural não é uma conseqüência da produção em massa, a indústria na expressão "indústria cultural" não é para ser tomada literalmente. Refere-se à padronização da coisa em si - como a ocidental, familiar a todo freqüentador de cinema - e para a racionalização das técnicas de distribuição, mas não estritamente ao processo de produção. Em vez disso, a padronização é uma necessidade de consumo de massa.

A necessária correlação de padronização musical é pseudo-individualização dotando a produção cultural de massa com a coroa da livre escolha ou de mercado aberto com base na padronização própria. Pseudo-individuação, por sua vez, impede o ouvinte de resistir à padronização que está reduzindo-o ao nível animal, fazendo-o esquecer que a música é padronizada. Esta característica de música popular também se mostra significativa para fins de comercialização. A fim de ser comercializado em massa, um hit deve ter pelo menos um recurso pelo qual pode ser distinguido de qualquer outro hit, e ainda possuir tudo o que há de convencional e banal de todos os outros hits. Sem a pseudo-individualização, que a indústria do marketing chama de "a diferenciação do produto", a música não poderia ser comercializada com sucesso. Sem padronização, não poderia ser vendido automaticamente, tendo a necessidade de esforço por parte do cliente, não poderia ser colocado no marketing de massa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Consumo de Informações

Mildredy Ventorin Barbosa 06004194

Vivenciamos um mundo em que a arte e cultura tornaram-se produtos vendáveis por uma sociedade de consumo que não se sacia apenas com bens materiais. Cria-se, em larga escala, uma falsa diversidade de cultura que incita o indivíduo a consumir cada vez mais, acreditando ser necessário e essencial o acúmulo de informação que supostamente deveriam transmitir conhecimento.

Toda essa cultura transmitida pelas mídias proporciona ao consumidor um espaço de fuga, no qual ele poderá vivenciar aquilo que não é possível em vida real, como podemos notar no cinema. O padrão utilizado é sempre a mesma, oferece-se ao espectador uma história, um cenário e personagens que não existem e a publicidade faz o seu papel ao vender mais filme “inovador”.

Esta “indústria de consumo” é resignificada na internet - elogiada por muitos por ser um ambiente que agrega todas as mídias – utilizando as informações como produtos consumíveis para usuários insaciáveis na busca de um conhecimento que supostamente é para todos. Engano pensar que todas as informações contidas nessa plataforma serão assimiladas e compreendias por qualquer um, uma vez que diversos fatores influenciam na sua compreensão: a formação escolar, o excesso e repetição de conteúdo ao qual somos submetidos e até mesmo a falta de conteúdo das mesmas, pois são produzidas para vender e não para intelectualizar.

Do mesmo modo que o cinema, a internet também apresenta ao usuário um mundo virtual cheio de possibilidades de ser quem ele gostaria de ser. O indivíduo penetra nesse universo, o utiliza para se afirmar como eu, começa a “freqüentar” comunidades e grupos virtuais e obtém o reconhecimento dos demais para finalmente se reconhecer como é por intermédio de outros. Os meios tecnológicos o proporcionam identidade, identificação dentro de uma ou várias tribos e relacionamentos “sociais”. O usuário torna-se signo do que é, pois assim se manterá sempre vivo em forma de conhecimento e informação; e acaba por trazer para si as máquinas e ambientes virtuais como próteses agregadas ao seu corpo que o auxiliam neste processo de identificação. O usuário passa a funcionar pelo aparato, sem se dar conta torna-se escravo deste e das informações que ali estão contidas, uma vez que quanto maior for o seu nível de interação com o ambiente, mais reconhecimento como “ser” ele terá.

O indivíduo rende-se ao consumismo de cultura e produtos como uma forma de vivência social e diversão; não é mais possível pensar em uma forma de lazer que não seja devorado por este ser sedento de informações vazias que o incitam a consumir cada vez mais.

O Senhor Consumidor

Paulo Rodrigo Sousa Grangeiro            06004203


Difícil pensar numa indústria de massa nos dias atuais, quando é aparente que a divisão de consumo parece feita para suprir a demanda de nichos. Mas se existe mesmo uma nova configuração dentro da política de mercado, há uma característica que tende a continuar intacta, ou, mais além, que parece ter se consolidado de vez como força absoluta: o consumidor. Seja na cultura de massa pensada por Benjamin, seja escondido entre os avatares da internet dos dias atuais, o que vemos é uma sociedade que desenvolveu novas perspectivas de consumo, alinhando suas estratégias de venda ao perfil desse novo consumidor, que precisa sentir-se “parte” de seu objeto de desejo. Mas como se dá esse processo?
Se até meados do século XX nós tínhamos no cinema, no rádio, na televisão e na imprensa os grandes meios de comunicação de massa, detentores e grandes filtros da informação (não confundir com conhecimento), o papel do consumidor poderia se confundir frequentemente com o de mero espectador, dada sua posição passiva no que diz respeito à recepção dessas informações. O consumo, dessa forma, garantia certa homogeneização (ainda que sempre houvesse aqueles exclusivamente direcionados para alguma classe social) no que diz respeito aos desejos dos consumidores. O que seria a época de ouro da Hollywood pós-guerra se não um grande cinema publicitário do American Way of Life?
O caso é que, nas últimas décadas, no estabelecimento da era informática e da cultura digital atual, passando pelos efeitos da web e dos meios com caráter híbridos e hipermidiáticos, não é mais possível pensar-se numa política única de mercado que atinja na mesma proporção a população como antes se fazia quando esta era efetivamente vista como uma massa consumista e com tendências uniformes. A mudança se dá na medida em que eu altero a percepção do consumidor como tal e permito a ele a possibilidade de se enxergar como algo a mais. Criador? Autor? Modelador? Seja a qualidade que for o caso é que o consumidor vive agora num sistema onde o default, o padrão, é ele próprio, o seu próprio gosto, o seu próprio desejo. Não estamos somente na era dos personal computers, mas na era dos filmes pessoais, da música, dos celulares, da programação (aqui não mais sustentada apenas no suporte televisão), dos sites, blogs, etc. Enfim, investindo em informações essenciais ou supérfluas de um perfil ou escondendo-se por trás de outro corpo virtual (avatar), o usuário vai se aproveitar da rede, das curtas distâncias propiciadas pela internet, utilizando o mínimo possível de mediadores como os antigos portais da década de 90, para realizar-se numa outra experiência de vivência, uma vivência virtual. De preferência, essa interação se dará a partir de minha própria página, do meu perfil (e o Google abre aqui novas perspectivas, uma vez que permite uma “conta”, um perfil que se liga a outros perfis de Orkut, twitter e afins. Seria esse um caminho cíclico, um retorno a homogeneização, ao filtro?).
Em seu texto A Guinada Metafísica de Hollywood, Boris Groys trabalha essa perspectiva do consumidor fazendo paralelos com o cinema de Hollywood, mas é exatamente na questão da autoria que seu texto chama atenção. Segundo ele, e pensando no que foi aqui descrito anteriormente, o que teríamos hoje seria uma verdadeira abominação a figura de um autor único, presença central de pensamento e elaboração da obra, uma vez que esse autor representaria uma dinâmica de trabalho que já não faria mais sentido. O exemplo é claro. Partindo das teorias de Hegel, posso pensar que temos o senhor e o escravo. A ambigüidade dessa relação está no fato de que o senhor necessita do escravo para manter-se em sua posição de status quo, pois é o trabalho do escravo que mantém a possibilidade de riqueza ao senhor e a realização de seus desejos. O que acontece é que o consumidor de hoje não se vê como um trabalhador, uma vez que ele almeja bens de consumo, desejos realizados, ele se vê como um consumidor-senhor, e como senhor eu não posso aceitar a presença de outra entidade detentora de determinado poder (o conhecimento do autor?) que não o meu.
A pergunta que fica aqui é o que acontece do outro lado da moeda, daquele de onde provêm todas as mercadorias de consumo? Se eu não vivo mais uma perspectiva massiva e industrial, como se dá minha relação com o consumidor? É possível pensar que, se as fórmulas do mercado se alteraram, as posições talvez não o tenham feito. Esse pensamento nasce na medida em que, por mais que eu entenda que esse pensamento de mercado se construa em cima de gerar possibilidades de “liberdade” ao consumidor, essa possibilidade é gerada a partir de algum lugar, os nichos são identificados a partir de algum lugar, e o mesmo acontece com toda a produção e distribuição, seja ela segmentada ou não. A questão não é pensarmos se ainda estamos todos a mercê de alguma(s) grande corporação, mas de que essa(s) corporação reconfigurou seu modo de trabalho na medida em surgiram no consumidor novas demandas, sejam elas causadas pelas transformações pelas quais passaram a sociedade, sejam pelos meios que alteraram nossa relação com o espaço ao redor.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A indústria cultural e a internet

Leonardo Musa

A indústria cultural e a internet

Em “A Indústria Cultural”, Adorno e Horkheimer abordam os fatos culturais como fruto de uma indústria que transforma a cultura em produto. A arte é transformada em negócio e a sua função é proporcionar lucros àqueles que dominam a sociedade. Além disso, os produtos da indústria cultural forjam indivíduos que não têm capacidade de julgamento, não possuem autonomia. Além de padronizar os produtos culturais (filmes, músicas, livros, etc), a indústria produz, de acordo com os autores, indivíduos alienados. O domínio da publicidade é total, ela garante o consumo fácil e seguro. A padronização garante uma diversidade, que de início parece ser diferente. Mas os produtos culturais padronizados seriam classificados em gênero, para facilitar o consumo e fazer crer, nos consumidores, que estão escolhendo dentro de grande variedade. Os autores ainda abordam questões específicas de certos meios de comunicação. No cinema, eles relatam o poder da catarse e da identificação do espectador com as estrelas do cinema. O cinema é visto como uma espécie de fuga. Como se oferecesse um pedaço do mundo que não se pode viver, através do consumo. A mescla entre arte e divertimento culmina no espetáculo de grandes proporções técnicas, que visa, através de suas enormes cifras e estatísticas, garantir a persuasão dos consumidores. Não é de se estranhar que isso continue a acontecer. É claro que o contexto histórico mudou, mas a apologia da técnica ainda é muito forte nos dias de hoje. No cinema, por exemplo, continuam a se divulgar os valores orçamentários dos filmes, as técnicas inovadoras empregadas e tantos outros dados como forma de atrair o público a um espetáculo, “nunca antes visto”, mas que repete fórmulas ultrapassadas.

Com a internet não poderia ser diferente. Existem muitos defensores das vantagens do hipertexto nos dias atuais. A internet aparece com grandes possibilidades de desenvolvimento e muitos apostam suas fichas nas maravilhas que podem surgir a partir da informação disponibilizada na web. Paulo Serra, no seu texto “Informação e Sentido”, trata a informação de uma maneira diferente. Ele explica que, necessariamente, uma maior circulação de informação não significa uma maior compreensão por parte daqueles que usufruem da informação. O autor quer dizer que não basta aumentar a circulação e disponibilização da informação para que as pessoas passem a atribuir sentido ou adquirir conhecimento. O autor vai na contra-mão das teorias que defendem a internet como grande possibilidade para aqueles que são desprovidos de oportunidades de estudo. Segundo Paulo Serra, a internet por si só não garante que as pessoas irão adquirir conhecimento. Talvez, esse problema esteja localizado na formação escolar. Mas ele reconhece que a internet pode ser uma grande enciclopédia que estende seus limites ao número de links existentes. A padronização de que fala Adorno e Horkheimer está presente na idéia que Paulo Serra traz da informação. Para Paulo Serra, a informação estaria padronizada, como se obedecesse a regras, assim como os produtos da indústria cultural. Os dois textos criticam as idéias iluministas, cada um do seu jeito.

Já Mikhail Bakhtin analisa questões um pouco mais profundas, diferentes dos outros autores. No texto “Estudo das Ideologias e Filosofia da Linguagem”, o autor discute questões mais complexas relativas à nossa compreensão do mundo através da ideologia. Mikhail Bakhtin explica que o mundo que conhecemos, além de sua materialidade, possui um mundo de significados. Ou signos. Seria como se além da nossa natureza (afinal somos bichos), existisse uma segunda realidade criada a partir dos signos da nossa cultura. Villém Flusser também fala em outro mundo, além do natural. Mas para Flusser esse mundo se chama “mundo codificado”, nome que dá título ao livro que trata dessa questão. Flusser afirma que o mundo está cheio de códigos, que foram criados por nós para nos fazer esquecer da nossa origem animal, ou melhor, nos fazer esquecer da morte. A memória fora do corpo é um tema tratado por Paulo Serra. Os computadores são a máquina de memória perfeita, que garantem a nossa existência mesmo após a morte. Incluí-se nisso, a mídia impressa, o rádio, o cinema, a televisão, a pintura, etc. Todas as formas de expressão que tem por intuito eternizar nossa existência. A idéia própria da Enciclopédia, como mostra Paulo Serra, é de garantir que o conhecimento acumulado não se perca, e que as próximas gerações possam aproveitar esse conhecimento. Mikhail Bakhtin diz que os signos se criam a partir das sociedades. É preciso que os homens estejam em sociedade para que os signos existam. A partir deles é que existe todo o resto, é neles que se funda a nossa linguagem. A partir disso vale pensar sobre a utilização por parte da indústria cultural das formas de expressão existentes atualmente. E da própria internet que, cada vez mais, se vê refém das regras do mercado que podem colocar por terra abaixo o sonho revivido dos enciclopedistas de disponibilizar o conhecimento para as futuras gerações.

A lógica do F5

Renato A. O. Batata – 06006656


É comum, nos dias de hoje, encontrar em publicações de diferentes naturezas certa consagração do advento das novas tecnologias digitais, principalmente, do computador e suas conexões em rede. Muitas publicações observam que agora, mais do que nunca, o acesso à informação e, conseqüentemente, ao conhecimento está facilitado. De fato, a internet se mostrou um grande depositório de informações das mais diversas. Como relata Paulo Serra, em Informação e Sentido, a internet poderia (à primeira vista) realizar o ideal dos enciclopedistas. Afinal além do limite material imposto à mídia impressa, a internet eliminaria o tempo entre a produção da informação e sua disponibilização. Além de abarcar qualquer tipo de informação. Mas como saber o que se procura se não existe o conhecimento (prévio) sobre o que está se procurando? A internet se revela como um grande depositório, mas da maneira como está organizada (ou como se apresenta atualmente) possibilita que o acesso à informação “relevante” (aquela que existe para ser transmitida e preservada) seja alcançado por aqueles que possuem esse conhecimento. Como aponta Serra, apenas àqueles que possuem o mapa deste território informacional. A internet facilita, por outro lado, a padronização da informação. Diminui a fronteira entre a informação “relevante” e a informação “irrelevante” (aquela que existe para ser esquecida). É comum em qualquer curso que tenha como objeto de estudo a internet (e Multimeios se enquadra nesse caso), o discurso de que a informação precisa estar disponível, facilitada e imediatamente acessível ao internauta. Não só em termos de design e layout das páginas, como também na maneira ou estrutura que a informação deve ser transmitida. Basta visitar alguns portais de notícias famosos para notar como a técnica do “control + c - control + v” impera nas redes. É preciso informar o conhecimento. Definir estruturas que facilitem a compreensão do internauta perdido pelos hiperlinks.

É interessante que o ponto de partida de uma pesquisa na internet geralmente comece num site de busca. Através de palavras-chave. Perdido, sem o mapa do território virtual (e potencialmente infinito), o consumidor de informações agradece de bom gosto os primeiros resultados que o buscador lhe entrega. Satisfeito, vicia-se e passa a freqüentar, muitas vezes, os mesmos endereços. Como se fizesse uma trilha com pedaços de pão, para sempre que necessário poder retornar para o lugar desejado. Essa massa consumidora, de que fala Boris Groys, se fascina com as possibilidades do mundo digital. Telas brilhantes, interações das mais diversas, imagens em alta definição. Tudo se apresenta como um mundo de imagens fantásticas, sonhos irrealizáveis, “realidades aumentadas”. Boris Groys atenta para a capacidade que um filme como Matrix tem de despertar a auto-reflexão do cinema e, conseqüentemente, a reflexão sobre a própria realidade. “[...] esses filmes ratificam a suspeita de que todo o mundo possa ser artificial -e assim, em sua pretensão crítica, vão muito além de todas as teorias que querem pensar o mundo como real, como natural- até mesmo no sentido da técnica, entendida como segunda natureza” (GROYS, p. 12). Boris defende que certa linha de filmes hollywoodianos caminham nesta direção. Realizando uma dupla função, questionam a realidade da imagem e também a realidade do “real”. Matrix é um ótimo exemplo dessa categoria de filmes, mas o autor fornece poucos exemplos que desempenhem função semelhante no cenário dos filmes blockbusters.

Essa idéia de que tudo é artificial, inclusive as teorias que possam refletir sobre esses meios (o cinema, por exemplo), coincide com o pensamento de Mikhail Bakhtin sobre a linguagem. O teórico russo defende que da mesma maneira que existe o mundo material, compostos de objetos, instrumentos, materiais de consumo, etc; existe o universo dos signos. Os signos são, para Bakhtin, parte da realidade, refletem-na e são construídos ou estabelecidos coletivamente, em relações intersubjetivas. Além disso, os signos são ideológicos, correspondem à esfera ideológica onde são tratados, seja ela religiosa, estética, moral, etc. Só podem surgir em contextos sociais, em indivíduos organizados em sociedade e possuem natureza comunicacional. Para Bakhtin, a consciência individual só surge a partir da interação social e da impregnação, por parte da consciência, de conteúdo ideológico. Ou seja, a consciência é um denominador sócio-ideológico. E não o contrário. Se a consciência individual não deriva da natureza, não é natural, nasce da relação entre indivíduos organizados socialmente dotados de signos comunicacionais; então a consciência é artificial. É construída a partir de relações. Ao entender o caráter sócio-ideológico da consciência é que se pode analisá-la. O teórico russo ainda afirma que a palavra é a manifestação ideológica pura. E é parte fundamental da consciência, pois participa do processo de compreensão e interpretação, além de assumir forma discursiva. Como se a palavra fosse neutra e desvinculada de uma função ideológica específica. A palavra serve a qualquer função ideológica, e está presente em qualquer criação ideológica. Pois ela é fundamento da compreensão e do discurso interior.

A linguagem, uma convenção social, revela que desde suas estruturas de interpretação e compreensão e desde a própria consciência, o homem está cercado pela artificialidade. Isso sugere que não só os filmes hollywoodianos se revelam artificiais, como formula Boris Groys, mas a própria comunicação, a linguagem, a cultura e o meio social são construções artificiais. Suas fundações remontam aos primórdios do surgimento do homem. E hoje se revelam altamente complexas. Tão complexas que dificilmente revelam seu caráter artificial. A abordagem de Boris Groys sugere uma interpretação que não é feita pelo espectador do filme hollywoodiano. A massa de consumidores a que se refere Boris fica muito contente por saber que o mundo de Matrix não é o nosso mundo, e que mesmo se isso acontecer, teremos um Neo para nos salvar. Essa mesma massa de consumidores não sabe qual caminho trilhar nos infinitos links hipermidiáticos. Entorpecida pelo consumo fácil, pela informação “segura”, pela imagem de alta definição, essa massa agradece cordialmente as sugestões que recebe e continuará a ser um público cativo. Mesmo com as possibilidades que o hipertexto apresenta. Pois o importante é estar atualizado e para isso basta a apertar o F5.

Bibliografia

BAKHTIN, Mikhail – Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002.

GROYS, Boris – Deuses Escravizados – a guinada metafísica de Hollywood. Folha de São Paulo – Caderno Mais. 03 de junho de 2001.

SERRA, Paulo – Informação e Sentido – notas para uma abordagem problemática do conceito de informação. Universidade da Beira Interior, 1999.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Indústria do Consumo

Lançar um olhar sobre algo dar um sentido subjetivo ao que se está observando. Quando imprimimos uma opinião pessoal a respeito de algo, de acordo com a epistemologia, área de interesse dos filósofos da linguagem, colocamos em jogo o nosso repertório e os nossos interesses. Sim, pois hoje em dia a informação tem vale poder e, de acordo com como manipulamos as informações que serão passadas adiante, podemos ganhar dinheiro, aliados, etc. O problema disso é que nem sempre essa informação é válida, ou porque foi muito manipulada ou porque é irrelevante para o curso das vidas de quem a recebe. Neste último caso, temos a atitude dos receptores de uma determinada mensagem que, apesar de saberem ser irrelevante, buscam-na e tornam-na um fator determinante de um momento em suas vidas.
Esta é uma imagem bastante comum na sociedade de hoje, a sociedade do consumo, que tem necessidades massificadas criadas por ela mesma. Uma dessas necessidades é o consumo de informações sobre celebridades, sobre o que acontecerá na TV. A partir daí, temos dois fenômenos: o primeiro é o do esvaziamento do conteúdo, no qual damos máxima importância a assuntos irrelevantes e o segundo é o fato de tornarmos a mídia algo retroativo: jornais falam sobre TV, a TV fala sobre ela mesma, etc. Segundo o texto “indústria Cultural: Revisando Adorno e Horkheimer”, o que acontece é que não só a cultura vira uma mercadoria, como a sua qualidade decai. Isso acontece pelos seguintes motivos: “aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos às técnicas da produção; grande investimento de capital fixo em instalações e maquinários; produção em série, ou seja, em larga escala.”
Segundo Paulo Serra, temos a seguinte equação: quanto mais informação, menor sua qualidade. No entanto, muitos encontram neste tipo de informação, o lucro. Esta afirmação encontra total apoio na realidade em que vivemos. Presenciamos todos os dias a criação de websites e programas de televisão que fornecem esse tipo de informação. A intenção de criar um jornal ou um programa, seria, inicialmente, de informar ou acrescer cultura. Isso continua, porém, no esquema consumista: coloca-se qualquer assunto de qualquer relevância para que vender publicidade. Ao lado do texto “informativo”, temos a propaganda. É assim que se ganha dinheiro. Temos algo interessante para a população e, ao lado, algo de interesse comercial. O que se faz é atrelar os dois, criando, assim, um produto. Um exemplo seria um site sobre moda e beleza. O site contacta anunciantes em potencial: indústrias de maquiagem e lojas de roupas, que, ao lado dos textos, colocariam suas campanhas na mesma página, pagando um valor x.
Outro caso seria a produção de texto feito pela própria empresa, ou seja, um site institucional que é, em si, uma propaganda maquiada. O texto está informando e vendendo ao mesmo tempo. Exemplificando, temos um produtor de soja. Ele cria um site falando sobre os benefícios do consumo de tal alimento, omitindo o impacto ambiental gerado pelas fazendas de soja ou os possíveis danos a saúde causados pelo consumo do produto. Essa informação é um visão sobre o assunto, uma visão que atende a um interesse em particular.
Temos aí, então, o grande dilema do profissional da informação: entrar no esquema e produzir algo para vender ou buscar um novo caminho, sujeito à pobreza e à retaliações políticas?

Rafaella Castello VB 06004206

Informação e Hipertexto

O conceito de informação tratado nos textos, seria propriamente a informação como sentido e emissora da mensagem. Podemos relacioná-la com a teoria dos sistemas, pois uma vez modificada, muda completamente o sentido inicial da mensagem, como por exemplo no texto de Serra Paulo, Informação e Sentido:
“Tudo leva a crer, portanto, que o Primeiro Imperador concebesse a sociedade como uma (espécie) de "máquina"(cibernética) em que cada uma das "peças"(instituições, grupos, indivíduos) e o todo "funcionam" de acordo com a informação que possui pelo que, alterar a informação que constitui a sua "memória" implica alterar, mais cedo ou mais tarde, de forma mais ou menos profunda, as suas formas de funcionamento.
A ser assim, a sua concepção não se afastaria muito da que, a partir da Teoria Cibernética e da Teoria dos Sistemas, é defendida por grande parte das Escolas
de Comunicação que essas teorias influenciam”
Podemos concluir então que a informação pode ser manipulada para quem desejamos transmitir a mensagem, e ainda mais: podemos manipular um grupo específico se alterarmos a mensagem com o objetivo de massificarmos uma linha de pensamento, como no texto de Adorno e a Indústria Cultural.
Adorno simplifica tudo com apenas uma mensagem: “O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho.”
O principal assunto tratado por Adorno é especificamente como a cultura pode ser um meio de massificação de controle da sociedade. Como por exemplo o cinema: O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.
Para Adorno, o homem não passa de um mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, o próprio objeto. Então o homem vira uma máquina, adquirindo um coração –máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante. A Indústria da Cultura que tem como objetivo a racionalidade técnica, difere da sociedade do consumo, o próprio ato de fazer sem pensar. O texto prepara as mentes e as alerta para essa sociedade consumista e impensável , onde tudo torna-se replicante:
“Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidade em virtude de sua própria constituição objetiva”
Fica claro portanto a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura.
Por fim, podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.