quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Rede de Informações e Conhecimento e o Cotidiano

Rede de Informações e Conhecimento e o Cotidiano

Uma grande dificuldade da sociedade, neste século, será admitir que tudo o que conhecemos até hoje, está interligado. É tudo um grande nó, um grande sistema, com infinitas conexões, e qualquer alteração em um desses subsistemas, consequentemente afetará todo o resto. A conexão entre assuntos como economia, ecologia, globalização, desenvolvimento tecnológico, é inegável. E é exatamente este conceito que é invisível pela maioria da sociedade, que conseguiu separá-los já cedo, dando ênfase, principalmente, à economia, desequilibrando-a. Para quem trabalha no mercado da economia, negligenciar todo o “resto” é a opção mais eficiente quando o objetivo é lucrar. Afinal, se a economia não tem, por exemplo, ligações com a ecologia e com os problemas que devem ser resolvidos no meio-ambiente, não é dever da própria economia, resolvê-los. Não é a toa que um quinto da riqueza mundial se concentra nas mãos de 1% da população mundial.

O maior problema que se formou, em relação à rotina formada pelo ser humano, e ao qual ele está preso completamente hoje em dia, e à abundância de informação que é jogada em nós diariamente, é que a rotina em que nos acostumamos a viver, e o conhecimento lançado nessa rotina, são destrutivos. Nos vemos, agora, pressionados a mudar tudo isso para que o Mundo não chegue num ponto de flagelação que nos obrigue a mudar totalmente nossos padrões de vida e, pior, que extingue a raça humana.

Mas como mudar algo que diz respeito completamente ao nosso dia-a-dia, e ao modo em que nos acostumamos a viver confortavelmente?

No livro “O ponto de Mutação” (1988), Fritjof CAPRA deixa claro que a degeneração do meio ambiente é a crise principal que enfrentaremos e que já estamos enfrentando, e as outras crises, como a inflação, a ameaça de esgotamento energético, e todas as outras, são conseqüências da crise principal. Portanto, devemos, acima de tudo, centrar nossa atenção na crise do meio-ambiente, arranjando soluções para esta, e focando a resolução dos outros problemas de um modo a ajudar também o meio-ambiente. Porém, a visão geral dos economistas globais é, ainda, antiecológica, e assim são também suas ações, e a conseqüência disso será a depauperação dos recursos naturais de que dependemos totalmente. Para que isto não aconteça, precisamos frear a idéia de crescimento econômico contínuo, e acelerarmos, ao invés, o pensamento de que para cada estrutura de nosso sistema, há uma dimensão ideal. É preciso repensar a dimensão da economia, e colocar prioridades em pauta, dentro da própria economia, como a reciclagem de nossos recursos naturais.

Em “Terra-Pátria”(1996), de Edgar MORIN, vê-se extrema semelhança com as idéias de Capra. Em tal obra, também, a mundialização econômica, se tivesse dimensões equilibradas, igualaria as partes do planeta, mas, como não é o caso, ela vem desigualando-as. Assim também é a tecno-ciência que, de um lado, ao passo que evolui e progride na medicina, de outro, cria armas que podem destruir o mundo diversas vezes.

Paralelo a isto, a televisão e o cinema começam a trazer no cotidiano das pessoas, uma noção que antes não existia: a de que há problemas mundiais, de que fazemos parte, de fato, de um mundo só. Vivemos todos no mesmo lugar, e, com a televisão, assistimos às tragédias de outras pessoas que vivem distantes de nós, mas nem tanto. Somos espectadores agora, portanto somos cúmplices ou testemunhas. A humanidade nasce.

Se há décadas atrás esta noção de interligação com o mundo todo passou a ser reforçada com a inserção da televisão, hoje em dia então, esta realidade está tão presente em nossas vidas quanto nossas necessidades diárias. Com a internet e o celular, as mídias convergem totalmente, e a globalização ganha novo sentido. Mas uma rotina individualista e sem base na preservação do meio ambiente em que vivemos, da qual herdamos de nossos ancestrais, é mais forte. Faz parte da nossa cultura, mas deve mudar, de um jeito ou de outro, por necessidade.

Morin julga ter sido possível, já há décadas atrás, “técnica e materialmente, reduzir as desigualdades, alimentar os famintos, distribuir recursos, atenuar o crescimento demográfico, diminuir as degradações ecológicas, mudar o trabalho, criar diversas altas instâncias planetárias de regulação e de proteção, desenvolver a ONU como verdadeira Sociedade das nações, civilizar a Terra.” de acordo com as técnicas, informações e comunicações que já tínhamos em mãos. aconteceu a terceira revolução tecnológica, que uniu a computação com a informática, com a comunicação, e diminuiu barreiras de espaço e distância. Deveríamos ter nos preparado para receber essa revolução de modo a usá-la para resolvermos os problemas já existentes há décadas em nossas vidas. O que devemos fazer agora, portanto, é pensar de forma planetária e política, e traçar a idéia de inseparabilidade entre os assuntos e acontecimentos - esta é a essência do pensamento sistêmico.

Fritjof CAPRA, em “Ponto de Mutação” (1988), também relaciona os problemas planetários à política, mas acusa que os políticos, junto com os meios de comunicação de massa, estão desorientados e não sabem quais dos problemas priorizarem, sendo que não se pode priorizar nenhum no momento, pois tudo vem de uma mesma crise. Novamente em sintonia com Morin, Capra sente a preocupação dos cidadãos com as questões sociais e ambientais antes de qualquer outra grande potencia. Tais cidadãos sentem a necessidade de se criar tecnologias brandas, que não sejam tão agressivas ao meio ambiente, e de consumir menos. Ainda é uma minoria que pensa assim, mas já é um começo.

A cada geração, o ser humano necessita ter mais conhecimento geral sobre tudo, mais vontade de aprender e se adaptar a uma rotina em que o trabalho e o estudo estão sempre em primeiro lugar. Pensando no Universo como uma rede interligada, uma informação se prende a outra, e, assim, quanto mais se retém informação, mais novas informações aparecerão. Mas infelizmente, como dito acima, é fácil negligenciar determinadas linhas de pensamento no processo de ensino, já na infância, e ter como base outras linhas de conhecimento que giram em torno, normalmente, do método de memorização de informações necessárias para se passar do vestibular. Não se deve ser pregada a tática de enterrar o aluno com informações sem parar, mas se isso fosse feito pelo menos com informações úteis para que o cotidiano do aluno já fosse construído de modo a se viver de forma sustentável, seria um grande adianto.


Liana Mastrocola

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