terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A indústria cultural e a internet

Leonardo Musa

A indústria cultural e a internet

Em “A Indústria Cultural”, Adorno e Horkheimer abordam os fatos culturais como fruto de uma indústria que transforma a cultura em produto. A arte é transformada em negócio e a sua função é proporcionar lucros àqueles que dominam a sociedade. Além disso, os produtos da indústria cultural forjam indivíduos que não têm capacidade de julgamento, não possuem autonomia. Além de padronizar os produtos culturais (filmes, músicas, livros, etc), a indústria produz, de acordo com os autores, indivíduos alienados. O domínio da publicidade é total, ela garante o consumo fácil e seguro. A padronização garante uma diversidade, que de início parece ser diferente. Mas os produtos culturais padronizados seriam classificados em gênero, para facilitar o consumo e fazer crer, nos consumidores, que estão escolhendo dentro de grande variedade. Os autores ainda abordam questões específicas de certos meios de comunicação. No cinema, eles relatam o poder da catarse e da identificação do espectador com as estrelas do cinema. O cinema é visto como uma espécie de fuga. Como se oferecesse um pedaço do mundo que não se pode viver, através do consumo. A mescla entre arte e divertimento culmina no espetáculo de grandes proporções técnicas, que visa, através de suas enormes cifras e estatísticas, garantir a persuasão dos consumidores. Não é de se estranhar que isso continue a acontecer. É claro que o contexto histórico mudou, mas a apologia da técnica ainda é muito forte nos dias de hoje. No cinema, por exemplo, continuam a se divulgar os valores orçamentários dos filmes, as técnicas inovadoras empregadas e tantos outros dados como forma de atrair o público a um espetáculo, “nunca antes visto”, mas que repete fórmulas ultrapassadas.

Com a internet não poderia ser diferente. Existem muitos defensores das vantagens do hipertexto nos dias atuais. A internet aparece com grandes possibilidades de desenvolvimento e muitos apostam suas fichas nas maravilhas que podem surgir a partir da informação disponibilizada na web. Paulo Serra, no seu texto “Informação e Sentido”, trata a informação de uma maneira diferente. Ele explica que, necessariamente, uma maior circulação de informação não significa uma maior compreensão por parte daqueles que usufruem da informação. O autor quer dizer que não basta aumentar a circulação e disponibilização da informação para que as pessoas passem a atribuir sentido ou adquirir conhecimento. O autor vai na contra-mão das teorias que defendem a internet como grande possibilidade para aqueles que são desprovidos de oportunidades de estudo. Segundo Paulo Serra, a internet por si só não garante que as pessoas irão adquirir conhecimento. Talvez, esse problema esteja localizado na formação escolar. Mas ele reconhece que a internet pode ser uma grande enciclopédia que estende seus limites ao número de links existentes. A padronização de que fala Adorno e Horkheimer está presente na idéia que Paulo Serra traz da informação. Para Paulo Serra, a informação estaria padronizada, como se obedecesse a regras, assim como os produtos da indústria cultural. Os dois textos criticam as idéias iluministas, cada um do seu jeito.

Já Mikhail Bakhtin analisa questões um pouco mais profundas, diferentes dos outros autores. No texto “Estudo das Ideologias e Filosofia da Linguagem”, o autor discute questões mais complexas relativas à nossa compreensão do mundo através da ideologia. Mikhail Bakhtin explica que o mundo que conhecemos, além de sua materialidade, possui um mundo de significados. Ou signos. Seria como se além da nossa natureza (afinal somos bichos), existisse uma segunda realidade criada a partir dos signos da nossa cultura. Villém Flusser também fala em outro mundo, além do natural. Mas para Flusser esse mundo se chama “mundo codificado”, nome que dá título ao livro que trata dessa questão. Flusser afirma que o mundo está cheio de códigos, que foram criados por nós para nos fazer esquecer da nossa origem animal, ou melhor, nos fazer esquecer da morte. A memória fora do corpo é um tema tratado por Paulo Serra. Os computadores são a máquina de memória perfeita, que garantem a nossa existência mesmo após a morte. Incluí-se nisso, a mídia impressa, o rádio, o cinema, a televisão, a pintura, etc. Todas as formas de expressão que tem por intuito eternizar nossa existência. A idéia própria da Enciclopédia, como mostra Paulo Serra, é de garantir que o conhecimento acumulado não se perca, e que as próximas gerações possam aproveitar esse conhecimento. Mikhail Bakhtin diz que os signos se criam a partir das sociedades. É preciso que os homens estejam em sociedade para que os signos existam. A partir deles é que existe todo o resto, é neles que se funda a nossa linguagem. A partir disso vale pensar sobre a utilização por parte da indústria cultural das formas de expressão existentes atualmente. E da própria internet que, cada vez mais, se vê refém das regras do mercado que podem colocar por terra abaixo o sonho revivido dos enciclopedistas de disponibilizar o conhecimento para as futuras gerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário