sábado, 12 de dezembro de 2009

A Linguagem Hipertextual

A contemporaneidade está marcada pela presença de uma nova sociedade tecnológica, baseada nos avanços das tecnologias digitais de comunicação e informação, pela microeletrônica e pelas telecomunicações. Tais tecnologias, caracterizadas como midiáticas, geram produtos que têm como principais características a linguagem digital hipertextual, a ampliação da possibilidade de interação comunicativa, a acelerada multiplicação da quantidade de informação e a capacidade de deslocar o homem de sua espacialidade física para um mundo virtual, para o ciberespaço.
Como todas as inovações tecnológicas, o hipertexto não podia ter deixado de suscitar suas reações antagónicas, já que ele parece comprometer radicalmente os nossos hábitos de leitura. Vejamos, de entre essas ameaças, a acessibilidade e a suspensão da autoria. Seja qual for o seu teor, artístico ou cognitivo, o sucesso do hipertexto decorre da forma eficaz como navegamos e acedemos a novos dados. Como é evidente, se esta acessibilidade por um lado substancia o mito da técnica, uma vez que o esforço parece diminuir, por outro desperta a suspeição de uma perda, a de uma leitura demorada, a que propiciaria um enriquecimento espiritual. A suspensão da autoria não significa que o hipertexto ou os textos que o constituem não tenham autor, mas, uma vez que é a leitura participativa ou errante que ele solicita, o leitor celebra mais o jogo entre os textos do que a voz dos seus autores. Ora estas duas características, a acessibilidade e a suspensão da autoria, parecem revolver a própria ideia de uma ética da leitura, porque concorrem para um mesmo precipício moral: o esforço de receber e compreender o outro, aquele que escreve, é estranho à leitura do hipertexto.
As mídias mais antigas já pressionavam seus formatos mais lineares numa tentativa de exprimir uma percepção que caracteriza o século XX, a vida enquanto composição de inúmeras possibilidades. Nos tempos atuais, marcados pela presença massiva das tecnologias digitais, a linguagem é marcada pela presença das diversas mídias (textos, sons, imagens e movimento) e pelos links, que interligam textos ou partes deles; é com os links se constroem os hipertextos, que são textos organizados de forma não linear, permitindo vários percursos de leitura, funcionando conforme o cérebro humano, por associação de idéias e interesses.
Porém, foi com o advento da revolução digital e com toda tecnologia que ela trouxe, que o hipertexto ganhou novas formas de se concretizar, sendo produzido em larga escala. Este amplo uso do hipertexto reflete não uma possibilidade trazida pela tecnologia, mas um desejo cultural que foi possível de se concretizar graças a essa tecnologia. Pode-se perceber que a tela do computador como espaço de escrita e de leitura traz não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas formas de ler e de escrever que aproximam o leitor do objeto do conhecimento. Abre-se, portanto, uma nova possibilidade para o conhecimento matemático, onde as habilidades de visualização, dedução e raciocínio são favorecidas pela multimídia e pelo hipertexto. Assim criado pelas linguagens componentes do hipertexto, o homem se comporta como um ser multidimensional praticamente alcançado por todos os conhecimentos acumulados pela humanidade ao longo de toda a sua trajetória histórica, sendo que o todo do conhecimento humano é componente e componível no e pelo hipertexto.A cultura, e toda a sua complexidade contextual resultam do homem, e, ao mesmo tempo, transforma-o na medida em que avança o tempo cronológico e agrega na história humana as novas tecnologias e as mudanças psico-sociais, cabendo traçar linhas conceituais sobre essa marca que opera diretamente nas suas relações com o meio físico e social. Com os avanços na tecnologia digital, rapidamente, e cada vez em maior escala, a cultura humana trafegou dos veículos já tradicionais, para o ciberespaço, vindo em constituir-se na cibercultura, que opera não mais apenas em pequenos grupos, segmentos, nações e povos, mas se desdobra a todos os meridianos globais.

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