sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Produtos Culturais da não-Indústria

Todos os artefatos humanos consistem em materializações de trabalho, eles incorporam o trabalho e percebem as suas intenções. Por um lado, a materialização do trabalho, um produto do trabalho, é um valor de uso. Como tal, um artefato tem utilidade para alguém, isto é, pode "servir" a necessidade individual ou coletiva de razão prática. O valor de troca de uma mercadoria depende da sua utilidade, bem como sobre as condições institucionais do mercado. Por outro lado, a materialização de trabalho é uma objetivação ou materialização de sentido ou significado. Como tal, articula-se com um artefato individual ou coletiva razão teórica ou senso estético. O valor de monopólio de um artefato depende da sua importância, bem como as condições institucionais que permitam preservar o monopólio.

Um pedaço de lenha ilustra o artefato em que se predomina a utilidade, um livro de filosofia é um artefato que predomina o significado. E um sempre poderia iniciar um incêndio com uma página de poesia, destacando a sua utilidade ao invés de seu significado poético. Os artefatos em que o significado predomina ao de utilidade, "produtos culturais". Em particular, trata-se dos produtos culturais que compunham a cultura popular na concepção de Adorno, incluindo cinema, horóscopo, jazz, revistas, rádio, novelas, seriados de televisão, internet, etc .

Como objetos culturais se tornam mais intercambiáveis, cada um decai em importância, perde sua "aura", daí decai na renda monopolista. Como o valor do bem cultural se baseia na renda de monopólio ou, num grau subordinado, sobre a utilidade do objeto, o valor do bem cultural deve declinar também. Isso não ocorre no capitalismo tardio, entretanto. "O que poderia ser chamado de valor de uso na recepção de bens culturais é substituído pelo valor de troca.”, através de um amplo processo de “fetichização”. O consumidor está pagando, e não para o produto, mas para a embalagem. Em vez de apreciações de valor com base nas qualidades do produto, as decisões sobre as qualidades do produto são baseadas em seu valor de troca, o seu preço, a sua classificação no “ranking”. Esta é a altura do fetichismo da mercadoria.

Pode-se argumentar que a padronização do produto cultural no capitalismo é tecnologicamente determinado, o mesmo que um produto industrial, como uma caixa de sucrilhos. Horkheimer e Adorno começam por analisar e rejeitar a alegação de que a padronização, a identidade da cultura de massa, pode ser explicada em termos tecnológicos. Tecnologia atinge o seu poder, apenas com o poder dos monopólios e grandes corporações. As indústrias mais poderosas, bancos, produtos químicos, eletricidade, petróleo, aço, produtos virtuais, o controle dos monopólios culturais, que são "fracos e dependentes em comparação. O último a produzir e comercializar à cultura de massa.

A padronização do produto cultural não é uma conseqüência da produção em massa, a indústria na expressão "indústria cultural" não é para ser tomada literalmente. Refere-se à padronização da coisa em si - como a ocidental, familiar a todo freqüentador de cinema - e para a racionalização das técnicas de distribuição, mas não estritamente ao processo de produção. Em vez disso, a padronização é uma necessidade de consumo de massa.

A necessária correlação de padronização musical é pseudo-individualização dotando a produção cultural de massa com a coroa da livre escolha ou de mercado aberto com base na padronização própria. Pseudo-individuação, por sua vez, impede o ouvinte de resistir à padronização que está reduzindo-o ao nível animal, fazendo-o esquecer que a música é padronizada. Esta característica de música popular também se mostra significativa para fins de comercialização. A fim de ser comercializado em massa, um hit deve ter pelo menos um recurso pelo qual pode ser distinguido de qualquer outro hit, e ainda possuir tudo o que há de convencional e banal de todos os outros hits. Sem a pseudo-individualização, que a indústria do marketing chama de "a diferenciação do produto", a música não poderia ser comercializada com sucesso. Sem padronização, não poderia ser vendido automaticamente, tendo a necessidade de esforço por parte do cliente, não poderia ser colocado no marketing de massa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Consumo de Informações

Mildredy Ventorin Barbosa 06004194

Vivenciamos um mundo em que a arte e cultura tornaram-se produtos vendáveis por uma sociedade de consumo que não se sacia apenas com bens materiais. Cria-se, em larga escala, uma falsa diversidade de cultura que incita o indivíduo a consumir cada vez mais, acreditando ser necessário e essencial o acúmulo de informação que supostamente deveriam transmitir conhecimento.

Toda essa cultura transmitida pelas mídias proporciona ao consumidor um espaço de fuga, no qual ele poderá vivenciar aquilo que não é possível em vida real, como podemos notar no cinema. O padrão utilizado é sempre a mesma, oferece-se ao espectador uma história, um cenário e personagens que não existem e a publicidade faz o seu papel ao vender mais filme “inovador”.

Esta “indústria de consumo” é resignificada na internet - elogiada por muitos por ser um ambiente que agrega todas as mídias – utilizando as informações como produtos consumíveis para usuários insaciáveis na busca de um conhecimento que supostamente é para todos. Engano pensar que todas as informações contidas nessa plataforma serão assimiladas e compreendias por qualquer um, uma vez que diversos fatores influenciam na sua compreensão: a formação escolar, o excesso e repetição de conteúdo ao qual somos submetidos e até mesmo a falta de conteúdo das mesmas, pois são produzidas para vender e não para intelectualizar.

Do mesmo modo que o cinema, a internet também apresenta ao usuário um mundo virtual cheio de possibilidades de ser quem ele gostaria de ser. O indivíduo penetra nesse universo, o utiliza para se afirmar como eu, começa a “freqüentar” comunidades e grupos virtuais e obtém o reconhecimento dos demais para finalmente se reconhecer como é por intermédio de outros. Os meios tecnológicos o proporcionam identidade, identificação dentro de uma ou várias tribos e relacionamentos “sociais”. O usuário torna-se signo do que é, pois assim se manterá sempre vivo em forma de conhecimento e informação; e acaba por trazer para si as máquinas e ambientes virtuais como próteses agregadas ao seu corpo que o auxiliam neste processo de identificação. O usuário passa a funcionar pelo aparato, sem se dar conta torna-se escravo deste e das informações que ali estão contidas, uma vez que quanto maior for o seu nível de interação com o ambiente, mais reconhecimento como “ser” ele terá.

O indivíduo rende-se ao consumismo de cultura e produtos como uma forma de vivência social e diversão; não é mais possível pensar em uma forma de lazer que não seja devorado por este ser sedento de informações vazias que o incitam a consumir cada vez mais.

O Senhor Consumidor

Paulo Rodrigo Sousa Grangeiro            06004203


Difícil pensar numa indústria de massa nos dias atuais, quando é aparente que a divisão de consumo parece feita para suprir a demanda de nichos. Mas se existe mesmo uma nova configuração dentro da política de mercado, há uma característica que tende a continuar intacta, ou, mais além, que parece ter se consolidado de vez como força absoluta: o consumidor. Seja na cultura de massa pensada por Benjamin, seja escondido entre os avatares da internet dos dias atuais, o que vemos é uma sociedade que desenvolveu novas perspectivas de consumo, alinhando suas estratégias de venda ao perfil desse novo consumidor, que precisa sentir-se “parte” de seu objeto de desejo. Mas como se dá esse processo?
Se até meados do século XX nós tínhamos no cinema, no rádio, na televisão e na imprensa os grandes meios de comunicação de massa, detentores e grandes filtros da informação (não confundir com conhecimento), o papel do consumidor poderia se confundir frequentemente com o de mero espectador, dada sua posição passiva no que diz respeito à recepção dessas informações. O consumo, dessa forma, garantia certa homogeneização (ainda que sempre houvesse aqueles exclusivamente direcionados para alguma classe social) no que diz respeito aos desejos dos consumidores. O que seria a época de ouro da Hollywood pós-guerra se não um grande cinema publicitário do American Way of Life?
O caso é que, nas últimas décadas, no estabelecimento da era informática e da cultura digital atual, passando pelos efeitos da web e dos meios com caráter híbridos e hipermidiáticos, não é mais possível pensar-se numa política única de mercado que atinja na mesma proporção a população como antes se fazia quando esta era efetivamente vista como uma massa consumista e com tendências uniformes. A mudança se dá na medida em que eu altero a percepção do consumidor como tal e permito a ele a possibilidade de se enxergar como algo a mais. Criador? Autor? Modelador? Seja a qualidade que for o caso é que o consumidor vive agora num sistema onde o default, o padrão, é ele próprio, o seu próprio gosto, o seu próprio desejo. Não estamos somente na era dos personal computers, mas na era dos filmes pessoais, da música, dos celulares, da programação (aqui não mais sustentada apenas no suporte televisão), dos sites, blogs, etc. Enfim, investindo em informações essenciais ou supérfluas de um perfil ou escondendo-se por trás de outro corpo virtual (avatar), o usuário vai se aproveitar da rede, das curtas distâncias propiciadas pela internet, utilizando o mínimo possível de mediadores como os antigos portais da década de 90, para realizar-se numa outra experiência de vivência, uma vivência virtual. De preferência, essa interação se dará a partir de minha própria página, do meu perfil (e o Google abre aqui novas perspectivas, uma vez que permite uma “conta”, um perfil que se liga a outros perfis de Orkut, twitter e afins. Seria esse um caminho cíclico, um retorno a homogeneização, ao filtro?).
Em seu texto A Guinada Metafísica de Hollywood, Boris Groys trabalha essa perspectiva do consumidor fazendo paralelos com o cinema de Hollywood, mas é exatamente na questão da autoria que seu texto chama atenção. Segundo ele, e pensando no que foi aqui descrito anteriormente, o que teríamos hoje seria uma verdadeira abominação a figura de um autor único, presença central de pensamento e elaboração da obra, uma vez que esse autor representaria uma dinâmica de trabalho que já não faria mais sentido. O exemplo é claro. Partindo das teorias de Hegel, posso pensar que temos o senhor e o escravo. A ambigüidade dessa relação está no fato de que o senhor necessita do escravo para manter-se em sua posição de status quo, pois é o trabalho do escravo que mantém a possibilidade de riqueza ao senhor e a realização de seus desejos. O que acontece é que o consumidor de hoje não se vê como um trabalhador, uma vez que ele almeja bens de consumo, desejos realizados, ele se vê como um consumidor-senhor, e como senhor eu não posso aceitar a presença de outra entidade detentora de determinado poder (o conhecimento do autor?) que não o meu.
A pergunta que fica aqui é o que acontece do outro lado da moeda, daquele de onde provêm todas as mercadorias de consumo? Se eu não vivo mais uma perspectiva massiva e industrial, como se dá minha relação com o consumidor? É possível pensar que, se as fórmulas do mercado se alteraram, as posições talvez não o tenham feito. Esse pensamento nasce na medida em que, por mais que eu entenda que esse pensamento de mercado se construa em cima de gerar possibilidades de “liberdade” ao consumidor, essa possibilidade é gerada a partir de algum lugar, os nichos são identificados a partir de algum lugar, e o mesmo acontece com toda a produção e distribuição, seja ela segmentada ou não. A questão não é pensarmos se ainda estamos todos a mercê de alguma(s) grande corporação, mas de que essa(s) corporação reconfigurou seu modo de trabalho na medida em surgiram no consumidor novas demandas, sejam elas causadas pelas transformações pelas quais passaram a sociedade, sejam pelos meios que alteraram nossa relação com o espaço ao redor.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A indústria cultural e a internet

Leonardo Musa

A indústria cultural e a internet

Em “A Indústria Cultural”, Adorno e Horkheimer abordam os fatos culturais como fruto de uma indústria que transforma a cultura em produto. A arte é transformada em negócio e a sua função é proporcionar lucros àqueles que dominam a sociedade. Além disso, os produtos da indústria cultural forjam indivíduos que não têm capacidade de julgamento, não possuem autonomia. Além de padronizar os produtos culturais (filmes, músicas, livros, etc), a indústria produz, de acordo com os autores, indivíduos alienados. O domínio da publicidade é total, ela garante o consumo fácil e seguro. A padronização garante uma diversidade, que de início parece ser diferente. Mas os produtos culturais padronizados seriam classificados em gênero, para facilitar o consumo e fazer crer, nos consumidores, que estão escolhendo dentro de grande variedade. Os autores ainda abordam questões específicas de certos meios de comunicação. No cinema, eles relatam o poder da catarse e da identificação do espectador com as estrelas do cinema. O cinema é visto como uma espécie de fuga. Como se oferecesse um pedaço do mundo que não se pode viver, através do consumo. A mescla entre arte e divertimento culmina no espetáculo de grandes proporções técnicas, que visa, através de suas enormes cifras e estatísticas, garantir a persuasão dos consumidores. Não é de se estranhar que isso continue a acontecer. É claro que o contexto histórico mudou, mas a apologia da técnica ainda é muito forte nos dias de hoje. No cinema, por exemplo, continuam a se divulgar os valores orçamentários dos filmes, as técnicas inovadoras empregadas e tantos outros dados como forma de atrair o público a um espetáculo, “nunca antes visto”, mas que repete fórmulas ultrapassadas.

Com a internet não poderia ser diferente. Existem muitos defensores das vantagens do hipertexto nos dias atuais. A internet aparece com grandes possibilidades de desenvolvimento e muitos apostam suas fichas nas maravilhas que podem surgir a partir da informação disponibilizada na web. Paulo Serra, no seu texto “Informação e Sentido”, trata a informação de uma maneira diferente. Ele explica que, necessariamente, uma maior circulação de informação não significa uma maior compreensão por parte daqueles que usufruem da informação. O autor quer dizer que não basta aumentar a circulação e disponibilização da informação para que as pessoas passem a atribuir sentido ou adquirir conhecimento. O autor vai na contra-mão das teorias que defendem a internet como grande possibilidade para aqueles que são desprovidos de oportunidades de estudo. Segundo Paulo Serra, a internet por si só não garante que as pessoas irão adquirir conhecimento. Talvez, esse problema esteja localizado na formação escolar. Mas ele reconhece que a internet pode ser uma grande enciclopédia que estende seus limites ao número de links existentes. A padronização de que fala Adorno e Horkheimer está presente na idéia que Paulo Serra traz da informação. Para Paulo Serra, a informação estaria padronizada, como se obedecesse a regras, assim como os produtos da indústria cultural. Os dois textos criticam as idéias iluministas, cada um do seu jeito.

Já Mikhail Bakhtin analisa questões um pouco mais profundas, diferentes dos outros autores. No texto “Estudo das Ideologias e Filosofia da Linguagem”, o autor discute questões mais complexas relativas à nossa compreensão do mundo através da ideologia. Mikhail Bakhtin explica que o mundo que conhecemos, além de sua materialidade, possui um mundo de significados. Ou signos. Seria como se além da nossa natureza (afinal somos bichos), existisse uma segunda realidade criada a partir dos signos da nossa cultura. Villém Flusser também fala em outro mundo, além do natural. Mas para Flusser esse mundo se chama “mundo codificado”, nome que dá título ao livro que trata dessa questão. Flusser afirma que o mundo está cheio de códigos, que foram criados por nós para nos fazer esquecer da nossa origem animal, ou melhor, nos fazer esquecer da morte. A memória fora do corpo é um tema tratado por Paulo Serra. Os computadores são a máquina de memória perfeita, que garantem a nossa existência mesmo após a morte. Incluí-se nisso, a mídia impressa, o rádio, o cinema, a televisão, a pintura, etc. Todas as formas de expressão que tem por intuito eternizar nossa existência. A idéia própria da Enciclopédia, como mostra Paulo Serra, é de garantir que o conhecimento acumulado não se perca, e que as próximas gerações possam aproveitar esse conhecimento. Mikhail Bakhtin diz que os signos se criam a partir das sociedades. É preciso que os homens estejam em sociedade para que os signos existam. A partir deles é que existe todo o resto, é neles que se funda a nossa linguagem. A partir disso vale pensar sobre a utilização por parte da indústria cultural das formas de expressão existentes atualmente. E da própria internet que, cada vez mais, se vê refém das regras do mercado que podem colocar por terra abaixo o sonho revivido dos enciclopedistas de disponibilizar o conhecimento para as futuras gerações.

A lógica do F5

Renato A. O. Batata – 06006656


É comum, nos dias de hoje, encontrar em publicações de diferentes naturezas certa consagração do advento das novas tecnologias digitais, principalmente, do computador e suas conexões em rede. Muitas publicações observam que agora, mais do que nunca, o acesso à informação e, conseqüentemente, ao conhecimento está facilitado. De fato, a internet se mostrou um grande depositório de informações das mais diversas. Como relata Paulo Serra, em Informação e Sentido, a internet poderia (à primeira vista) realizar o ideal dos enciclopedistas. Afinal além do limite material imposto à mídia impressa, a internet eliminaria o tempo entre a produção da informação e sua disponibilização. Além de abarcar qualquer tipo de informação. Mas como saber o que se procura se não existe o conhecimento (prévio) sobre o que está se procurando? A internet se revela como um grande depositório, mas da maneira como está organizada (ou como se apresenta atualmente) possibilita que o acesso à informação “relevante” (aquela que existe para ser transmitida e preservada) seja alcançado por aqueles que possuem esse conhecimento. Como aponta Serra, apenas àqueles que possuem o mapa deste território informacional. A internet facilita, por outro lado, a padronização da informação. Diminui a fronteira entre a informação “relevante” e a informação “irrelevante” (aquela que existe para ser esquecida). É comum em qualquer curso que tenha como objeto de estudo a internet (e Multimeios se enquadra nesse caso), o discurso de que a informação precisa estar disponível, facilitada e imediatamente acessível ao internauta. Não só em termos de design e layout das páginas, como também na maneira ou estrutura que a informação deve ser transmitida. Basta visitar alguns portais de notícias famosos para notar como a técnica do “control + c - control + v” impera nas redes. É preciso informar o conhecimento. Definir estruturas que facilitem a compreensão do internauta perdido pelos hiperlinks.

É interessante que o ponto de partida de uma pesquisa na internet geralmente comece num site de busca. Através de palavras-chave. Perdido, sem o mapa do território virtual (e potencialmente infinito), o consumidor de informações agradece de bom gosto os primeiros resultados que o buscador lhe entrega. Satisfeito, vicia-se e passa a freqüentar, muitas vezes, os mesmos endereços. Como se fizesse uma trilha com pedaços de pão, para sempre que necessário poder retornar para o lugar desejado. Essa massa consumidora, de que fala Boris Groys, se fascina com as possibilidades do mundo digital. Telas brilhantes, interações das mais diversas, imagens em alta definição. Tudo se apresenta como um mundo de imagens fantásticas, sonhos irrealizáveis, “realidades aumentadas”. Boris Groys atenta para a capacidade que um filme como Matrix tem de despertar a auto-reflexão do cinema e, conseqüentemente, a reflexão sobre a própria realidade. “[...] esses filmes ratificam a suspeita de que todo o mundo possa ser artificial -e assim, em sua pretensão crítica, vão muito além de todas as teorias que querem pensar o mundo como real, como natural- até mesmo no sentido da técnica, entendida como segunda natureza” (GROYS, p. 12). Boris defende que certa linha de filmes hollywoodianos caminham nesta direção. Realizando uma dupla função, questionam a realidade da imagem e também a realidade do “real”. Matrix é um ótimo exemplo dessa categoria de filmes, mas o autor fornece poucos exemplos que desempenhem função semelhante no cenário dos filmes blockbusters.

Essa idéia de que tudo é artificial, inclusive as teorias que possam refletir sobre esses meios (o cinema, por exemplo), coincide com o pensamento de Mikhail Bakhtin sobre a linguagem. O teórico russo defende que da mesma maneira que existe o mundo material, compostos de objetos, instrumentos, materiais de consumo, etc; existe o universo dos signos. Os signos são, para Bakhtin, parte da realidade, refletem-na e são construídos ou estabelecidos coletivamente, em relações intersubjetivas. Além disso, os signos são ideológicos, correspondem à esfera ideológica onde são tratados, seja ela religiosa, estética, moral, etc. Só podem surgir em contextos sociais, em indivíduos organizados em sociedade e possuem natureza comunicacional. Para Bakhtin, a consciência individual só surge a partir da interação social e da impregnação, por parte da consciência, de conteúdo ideológico. Ou seja, a consciência é um denominador sócio-ideológico. E não o contrário. Se a consciência individual não deriva da natureza, não é natural, nasce da relação entre indivíduos organizados socialmente dotados de signos comunicacionais; então a consciência é artificial. É construída a partir de relações. Ao entender o caráter sócio-ideológico da consciência é que se pode analisá-la. O teórico russo ainda afirma que a palavra é a manifestação ideológica pura. E é parte fundamental da consciência, pois participa do processo de compreensão e interpretação, além de assumir forma discursiva. Como se a palavra fosse neutra e desvinculada de uma função ideológica específica. A palavra serve a qualquer função ideológica, e está presente em qualquer criação ideológica. Pois ela é fundamento da compreensão e do discurso interior.

A linguagem, uma convenção social, revela que desde suas estruturas de interpretação e compreensão e desde a própria consciência, o homem está cercado pela artificialidade. Isso sugere que não só os filmes hollywoodianos se revelam artificiais, como formula Boris Groys, mas a própria comunicação, a linguagem, a cultura e o meio social são construções artificiais. Suas fundações remontam aos primórdios do surgimento do homem. E hoje se revelam altamente complexas. Tão complexas que dificilmente revelam seu caráter artificial. A abordagem de Boris Groys sugere uma interpretação que não é feita pelo espectador do filme hollywoodiano. A massa de consumidores a que se refere Boris fica muito contente por saber que o mundo de Matrix não é o nosso mundo, e que mesmo se isso acontecer, teremos um Neo para nos salvar. Essa mesma massa de consumidores não sabe qual caminho trilhar nos infinitos links hipermidiáticos. Entorpecida pelo consumo fácil, pela informação “segura”, pela imagem de alta definição, essa massa agradece cordialmente as sugestões que recebe e continuará a ser um público cativo. Mesmo com as possibilidades que o hipertexto apresenta. Pois o importante é estar atualizado e para isso basta a apertar o F5.

Bibliografia

BAKHTIN, Mikhail – Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002.

GROYS, Boris – Deuses Escravizados – a guinada metafísica de Hollywood. Folha de São Paulo – Caderno Mais. 03 de junho de 2001.

SERRA, Paulo – Informação e Sentido – notas para uma abordagem problemática do conceito de informação. Universidade da Beira Interior, 1999.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Indústria do Consumo

Lançar um olhar sobre algo dar um sentido subjetivo ao que se está observando. Quando imprimimos uma opinião pessoal a respeito de algo, de acordo com a epistemologia, área de interesse dos filósofos da linguagem, colocamos em jogo o nosso repertório e os nossos interesses. Sim, pois hoje em dia a informação tem vale poder e, de acordo com como manipulamos as informações que serão passadas adiante, podemos ganhar dinheiro, aliados, etc. O problema disso é que nem sempre essa informação é válida, ou porque foi muito manipulada ou porque é irrelevante para o curso das vidas de quem a recebe. Neste último caso, temos a atitude dos receptores de uma determinada mensagem que, apesar de saberem ser irrelevante, buscam-na e tornam-na um fator determinante de um momento em suas vidas.
Esta é uma imagem bastante comum na sociedade de hoje, a sociedade do consumo, que tem necessidades massificadas criadas por ela mesma. Uma dessas necessidades é o consumo de informações sobre celebridades, sobre o que acontecerá na TV. A partir daí, temos dois fenômenos: o primeiro é o do esvaziamento do conteúdo, no qual damos máxima importância a assuntos irrelevantes e o segundo é o fato de tornarmos a mídia algo retroativo: jornais falam sobre TV, a TV fala sobre ela mesma, etc. Segundo o texto “indústria Cultural: Revisando Adorno e Horkheimer”, o que acontece é que não só a cultura vira uma mercadoria, como a sua qualidade decai. Isso acontece pelos seguintes motivos: “aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos às técnicas da produção; grande investimento de capital fixo em instalações e maquinários; produção em série, ou seja, em larga escala.”
Segundo Paulo Serra, temos a seguinte equação: quanto mais informação, menor sua qualidade. No entanto, muitos encontram neste tipo de informação, o lucro. Esta afirmação encontra total apoio na realidade em que vivemos. Presenciamos todos os dias a criação de websites e programas de televisão que fornecem esse tipo de informação. A intenção de criar um jornal ou um programa, seria, inicialmente, de informar ou acrescer cultura. Isso continua, porém, no esquema consumista: coloca-se qualquer assunto de qualquer relevância para que vender publicidade. Ao lado do texto “informativo”, temos a propaganda. É assim que se ganha dinheiro. Temos algo interessante para a população e, ao lado, algo de interesse comercial. O que se faz é atrelar os dois, criando, assim, um produto. Um exemplo seria um site sobre moda e beleza. O site contacta anunciantes em potencial: indústrias de maquiagem e lojas de roupas, que, ao lado dos textos, colocariam suas campanhas na mesma página, pagando um valor x.
Outro caso seria a produção de texto feito pela própria empresa, ou seja, um site institucional que é, em si, uma propaganda maquiada. O texto está informando e vendendo ao mesmo tempo. Exemplificando, temos um produtor de soja. Ele cria um site falando sobre os benefícios do consumo de tal alimento, omitindo o impacto ambiental gerado pelas fazendas de soja ou os possíveis danos a saúde causados pelo consumo do produto. Essa informação é um visão sobre o assunto, uma visão que atende a um interesse em particular.
Temos aí, então, o grande dilema do profissional da informação: entrar no esquema e produzir algo para vender ou buscar um novo caminho, sujeito à pobreza e à retaliações políticas?

Rafaella Castello VB 06004206

Informação e Hipertexto

O conceito de informação tratado nos textos, seria propriamente a informação como sentido e emissora da mensagem. Podemos relacioná-la com a teoria dos sistemas, pois uma vez modificada, muda completamente o sentido inicial da mensagem, como por exemplo no texto de Serra Paulo, Informação e Sentido:
“Tudo leva a crer, portanto, que o Primeiro Imperador concebesse a sociedade como uma (espécie) de "máquina"(cibernética) em que cada uma das "peças"(instituições, grupos, indivíduos) e o todo "funcionam" de acordo com a informação que possui pelo que, alterar a informação que constitui a sua "memória" implica alterar, mais cedo ou mais tarde, de forma mais ou menos profunda, as suas formas de funcionamento.
A ser assim, a sua concepção não se afastaria muito da que, a partir da Teoria Cibernética e da Teoria dos Sistemas, é defendida por grande parte das Escolas
de Comunicação que essas teorias influenciam”
Podemos concluir então que a informação pode ser manipulada para quem desejamos transmitir a mensagem, e ainda mais: podemos manipular um grupo específico se alterarmos a mensagem com o objetivo de massificarmos uma linha de pensamento, como no texto de Adorno e a Indústria Cultural.
Adorno simplifica tudo com apenas uma mensagem: “O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho.”
O principal assunto tratado por Adorno é especificamente como a cultura pode ser um meio de massificação de controle da sociedade. Como por exemplo o cinema: O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.
Para Adorno, o homem não passa de um mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, o próprio objeto. Então o homem vira uma máquina, adquirindo um coração –máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante. A Indústria da Cultura que tem como objetivo a racionalidade técnica, difere da sociedade do consumo, o próprio ato de fazer sem pensar. O texto prepara as mentes e as alerta para essa sociedade consumista e impensável , onde tudo torna-se replicante:
“Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidade em virtude de sua própria constituição objetiva”
Fica claro portanto a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura.
Por fim, podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O Conceito de Comunidade nas Redes Sociais Virtuais

Bruna Said Marin – VB – Multimeios



O Conceito de Comunidade nas Redes Sociais Virtuais



O cotidiano, espaço-temporal onde se dá a vivência de um ser humano, é mudado todos os dias por qualquer fator, de qualquer porte. Sua interação com o mundo à sua volta é que define como será seu cotidiano. A interação coletiva se tornou um bem público.

A atual interação coletiva pode ser compreendida dentro de uma certa lógica, dentro de certos padrões. poderíamos pensar invertendo a lógica das hermenêuticas, como a comunicação e as mídias procuram se apropriar dos aspectos estéticos e filosóficos do cotidiano, através de leituras preferenciais. Depois da negociação de interesses / preferências individuais entre as pessoas, surge então a explosão de comunidades: o indivíduo sai do “eu” e mergulha no “nós” em busca de reencontrar o “eu”. É um caminho inverso, uma construção coletiva que faz parte da dinâmica da sociedade desde sempre. Há como questionar a autenticidade desta construção, ou até mesmo de seu resultado, pois todo caminho trilhado é altamente sugestivo e tudo vale nesta desconstrução do “eu”. Não sabemos até que ponto o individuo é conduzido ou induzido.

No ciberespaço, esta busca pela identidade tem se tornado cada vez mais constante, já faz parte do cotidiano. As redes sociais virtuais como Facebook, MySpace, Orkut, Twitter estão entre as páginas de maior quantidade de acessos no mundo, ilustrando este fenômeno.
É neste coletivo que o individuo vai mostrar sua existência própria, independente das manifestações individuais ali presentes. Como o ciberespaço é imenso, há uma infinidade de sítios em que as personalidades podem se reinventar. No contexto do imaginário social, as riquezas estéticas, materiais e intelectuais traduzidas na imagem e na fala. É nesse ponto que vão se distinguir os grupos, é isso o que faz com que a vida cotidiana não seja igual para todos, formando os nichos virtuais.

A vida cotidiana vai se interligar pelos fatos sociais, através da sinergia de cada cidadão. Considero o ponto mais positivo dessas redes sociais virtuais - além de serem uma nova configuração de comunidade em si - o fato de serem criadas nos moldes de seus idealizadores. Não foram produtos impostos, foram produtos que obedeceram à demanda da sociedade, são signos da vida cotidiana.

Quanto mais um individuo interagir com esta comunidade, mais ele estará apto a reconhecer habilidades, valores e comportamentos que compõe o seu meio. Nestas redes há um “contrato” de confiança mútua, onde um inclui o outro no universo de referência. Esta inclusão, ou integração, é uma atitude muito simples, no entanto conota o reconhecimento do individuo. Quanto menos ele interagir, menos ele estará às vistas da percepção do outro, sendo assim, ele não será aceito, incluído ou valorizado pelo grupo em questão.

No entanto, na web, o excesso de informações dificulta este reconhecimento. O excesso de opiniões e constatações pode transformar o ambiente numa enciclopédia viva, onde a maioria das coisas ditas são efêmeras e incorretas. A rede, através de seus mecanismos, vai filtrar as intermediações e acordos de interesse, facilitando a formação dos grupos.

Ainda não podemos definir com clareza o resultado destas redes em nossa sociedade, de uma maneira geral; o que sabemos é que, para as pessoas que freqüentam este mundo virtual, esta é uma grande oportunidade de se repensar e talvez de se reinventar o modo de organização de grupos e comunidades, talvez filtrando as informações boas e necessárias, sabendo identificar pontualmente o descartável.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Linguagem Hipertextual

A contemporaneidade está marcada pela presença de uma nova sociedade tecnológica, baseada nos avanços das tecnologias digitais de comunicação e informação, pela microeletrônica e pelas telecomunicações. Tais tecnologias, caracterizadas como midiáticas, geram produtos que têm como principais características a linguagem digital hipertextual, a ampliação da possibilidade de interação comunicativa, a acelerada multiplicação da quantidade de informação e a capacidade de deslocar o homem de sua espacialidade física para um mundo virtual, para o ciberespaço.
Como todas as inovações tecnológicas, o hipertexto não podia ter deixado de suscitar suas reações antagónicas, já que ele parece comprometer radicalmente os nossos hábitos de leitura. Vejamos, de entre essas ameaças, a acessibilidade e a suspensão da autoria. Seja qual for o seu teor, artístico ou cognitivo, o sucesso do hipertexto decorre da forma eficaz como navegamos e acedemos a novos dados. Como é evidente, se esta acessibilidade por um lado substancia o mito da técnica, uma vez que o esforço parece diminuir, por outro desperta a suspeição de uma perda, a de uma leitura demorada, a que propiciaria um enriquecimento espiritual. A suspensão da autoria não significa que o hipertexto ou os textos que o constituem não tenham autor, mas, uma vez que é a leitura participativa ou errante que ele solicita, o leitor celebra mais o jogo entre os textos do que a voz dos seus autores. Ora estas duas características, a acessibilidade e a suspensão da autoria, parecem revolver a própria ideia de uma ética da leitura, porque concorrem para um mesmo precipício moral: o esforço de receber e compreender o outro, aquele que escreve, é estranho à leitura do hipertexto.
As mídias mais antigas já pressionavam seus formatos mais lineares numa tentativa de exprimir uma percepção que caracteriza o século XX, a vida enquanto composição de inúmeras possibilidades. Nos tempos atuais, marcados pela presença massiva das tecnologias digitais, a linguagem é marcada pela presença das diversas mídias (textos, sons, imagens e movimento) e pelos links, que interligam textos ou partes deles; é com os links se constroem os hipertextos, que são textos organizados de forma não linear, permitindo vários percursos de leitura, funcionando conforme o cérebro humano, por associação de idéias e interesses.
Porém, foi com o advento da revolução digital e com toda tecnologia que ela trouxe, que o hipertexto ganhou novas formas de se concretizar, sendo produzido em larga escala. Este amplo uso do hipertexto reflete não uma possibilidade trazida pela tecnologia, mas um desejo cultural que foi possível de se concretizar graças a essa tecnologia. Pode-se perceber que a tela do computador como espaço de escrita e de leitura traz não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas formas de ler e de escrever que aproximam o leitor do objeto do conhecimento. Abre-se, portanto, uma nova possibilidade para o conhecimento matemático, onde as habilidades de visualização, dedução e raciocínio são favorecidas pela multimídia e pelo hipertexto. Assim criado pelas linguagens componentes do hipertexto, o homem se comporta como um ser multidimensional praticamente alcançado por todos os conhecimentos acumulados pela humanidade ao longo de toda a sua trajetória histórica, sendo que o todo do conhecimento humano é componente e componível no e pelo hipertexto.A cultura, e toda a sua complexidade contextual resultam do homem, e, ao mesmo tempo, transforma-o na medida em que avança o tempo cronológico e agrega na história humana as novas tecnologias e as mudanças psico-sociais, cabendo traçar linhas conceituais sobre essa marca que opera diretamente nas suas relações com o meio físico e social. Com os avanços na tecnologia digital, rapidamente, e cada vez em maior escala, a cultura humana trafegou dos veículos já tradicionais, para o ciberespaço, vindo em constituir-se na cibercultura, que opera não mais apenas em pequenos grupos, segmentos, nações e povos, mas se desdobra a todos os meridianos globais.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Informação, sentido e os papéis sociais

Diego Silva de Avila
06007198

A imitação é a base da vida social. É imitando comportamentos que aprendemos e é esse ato que gera a assimilação dos papéis sociais. Os papéis sociais são os arquétipos que assumimos (ou somos condicionados a assumir), como: o malandro, o ingênuo, a mãe amável...
Esses papéis são o resultado de uma combinação de fatores, entre eles o de o homem nascer em um mundo que já tem uma estrutura própria, onde temos como única opção o ingresso, para ingressar em uma estrutura – seja ela qual for – deve-se assimilar experiências, assimilar toda a história de seus antecessores. O mesmo acontece, por exemplo, ao entrar em um grupo social, o ingressante imita as roupas, os gestos e modos de pensar para sua aceitação poder ser cogitado.
Uma das funções dos papéis sociais é a de “inconscientizar” as reações, é até meio óbvio que não analisemos tudo que vamos fazer, não pensamos, por exemplo, o que iremos dizer ao atender ao telefone, não precisamos pensar como cumprimentar as pessoas, pois os fazemos automaticamente. E os papéis ampliam essa automação de reação, além de sabermos o que vamos fazer, sabemos como os outros devem reagir e os cobramos por isso. Sabemos aonde o malandro vai quando desce a rua ou como fica o rosto do ingênuo quando falamos de sexo.
É importante salientar que os papéis não permanecem estáveis para sempre, socialmente vamos mudando qualidades de nossos papéis a partir das exigências de cada situação. “Cada tarefa reclama suas próprias qualidades”.
Como dito, a sociedade exige que certas tarefas sejam feitas, diz que certos comportamentos serão aceitos enquanto outros não. Cada papel tem suas próprias reações diante de cada estímulo devido ao “dever-ser”, ou seja, a relação do homem com seus deveres. A mãe deve amar seus filhos e os servir, enquanto o pai deve trabalhar e sustentar a família. O homem que tem um filho “deve ser” então pai e marido e fazer o que esses papéis exigem dele.
Um exemplo interessante é o do operário e a greve, imagine que um operário se coloque contra a greve de seus companheiros por seus direitos, este seria visto como ridículo.
Vivemos na sociedade da informação, onde acredita-se que é a informação o que liberta o homem, que é a informação que o faz pensar. Mas sabe-se que quanto mais informação menos sentido, vivemos na verdade em uma sociedade que sabe mas não compreende.
Norval Baitello jr. tem sua teoria de que os excessos geram a falta e que quanto mais inserimos elementos, menos eles serão vistos.
O excesso de informação faz com que o homem perca a capacidade de analise, mesmo aquilo que deve-se analisar se baseia no gesto inconsciente. Se todo conhecimento é gerado por uma experiência, uma sensação, como podemos produzi-lo a partir de experiências que não vivenciamos? Que não sentimos?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Gustavo Del Nero Ferreira – 06004163

 Filosofia da linguagem e Comunicação. 

Os meios de comunicação sempre vêem sofrendo mudanças com a evolução dos aparatos técnicos. Com isso temos a migração de diversas linguagens para diferentes meios que se reformulam para decodificar uma mensagem ao usuário.  Com a evolução do aparato técnico, comunicar ficou muito mais fácil e ágil, hoje pode-se transmitir uma mensagem sem sair de casa, houve um crescimento desenfreada de meios de comunicação.

Esse crescimento transformou a comunicação, antes onde era um meio de informação e cultura se tornou um poço de desinformação e inverdades, por conta da falta de credibilidade das novas pessoas que colocam informação em circulação. Houve uma contaminação generalizada em meios que antes eram lidados como fontes confiáveis. A internet foi um grande colaborador para essa contaminação, coma convergência das mídias hoje se fala em televisão na web ou jornal na web, que não tem o mesmo potencial informacional do que os antigos meios, mas ganham tanta credibilidade quanto os mais antigos.

A mídia se transformou em um grande fazedor de negócios, “a indústria cultural” onde o dinheiro vale mais do que uma informação, e a cultura e a qualidade são segundo plano. Quando os meios de comunicação viraram indústrias, a qualidade de programação e conteúdo cai, as propagandas, grandes fontes de lucro, invadem cada vez mais o espaço de um conteúdo cultural, e tomam tanto espaço que muitas vezes até interferem no conteúdo de uma programação (marshendising).

A televisão é um bom exemplo da contaminação da falta de conteúdo, para tentar competir com meios mais acessíveis como a internet, por exemplo, onde os conteúdos são jogados e podemos pegar e retransmitir da forma que quisermos, a televisão acaba se transformando em u ma miscelânea de conteúdos jogados, onde só o que importa é o atrativo que se transforme em lucro. Uma grande irresponsabilidade, pois a televisão é tão poderosa quanto uma arma de destruição em massa, ela contamina e dissemina.

Muitos estudiosos perceberam a importância do estudo da linguagem de forma que a Epistemologia que estuda a crença e o conhecimento é um dos focos de estudos maiores dos filósofos da linguagem. A percepção do poder que a linguagem exerce na crença é fundamental para se fazer comunicação, intender o poder que isso pode trazer é o caminho para transformar a linguagem em uma ferramenta em potencial. A linguagem também se confunde coma filosofia no estudo da lógica, que estuda a interferência, ou a tentativa de criação de critérios para organização.

Hoje a internet é o meio de comunicação que passa por toda essa reformulação de linguagem, apenas como um protótipo de comunicação, mas com um poder maior do que qualquer outro meio, ela vem cada vez mais tomando o espaço e agregando diversos tipos de linguagem, isso a torna cada vez mais poderosa, afinal dominar todas as linguagens é a melhor forma de se comunicar.

Irformações Conectadas

As informações produzidas nos chegam pelos meios de informação e comunicação que, por sua vez, também constroem imagens a respeito do mundo; para entreter e vender, sugerem muitas vezes o que devemos vestir, comer e até agir. Por isso, já se discute uma necessidade de uma alfabetização visual, que se expressa de variadas formas, as pessoas não conseguem separar o real do que é passado pela mídia, e às vezes não consegue se enquadrar a padrões.

A conexão entre a globalização, a economia, a ecologia e por fim, o desenvolvimento tecnológico, é notável, porém, está invisível para a maioria das pessoas. Tudo o que conhecemos até hoje está interligado, um grande sistema com inúmeras conexões. Por isso, qualquer alteração em um desses subsistemas afeta todo o resto. O maior problema à rotina do homem moderno é a massiva quantidade de informação “expelida” diariamente pelos meios de comunicação.

O ser humano vem enfrentando diversas crises como a inflação, a ameaça de esgotamento energético, entre ouras, que são consequências da principal que é a de informação. Hoje em dia há tantos estilos e formas diferentes, cada “espectador” possui uma visão de mundo diferente, o crescente interesse pelo visual tem levado estudiosos a discutirem sobre as imagens e sobre as expressões das diferentes designações, como leitura de imagens e cultura visual.

A leitura de imagens de tendência formalista fundamenta-se na razão perceptiva e comunicativa que justifica o uso e desenvolvimento da linguagem visual para facilitar a comunicação, porém, a presença de uma racionalidade não representa uma hegemonia, pois diferentes formas de racionalidade. Elas podem conviver no mesmo espaço e tempo, e uma pode estar mais consolidada que outra, isso devido a racionalidade moral, que entende que a prática artística contribui para a educação moral e o cultivo da vida espiritual e emocional, para a projeção de emoções e sentimentos que não possuem outra forma de serem transmitidos.

Em contraponto, os meios de comunicação levam para as pessoas, uma noção nova: há problemas mundiais e fazemos parte deles. O mundo é um só, com a televisão, assistimos às tragédias de outras pessoas como se fossem nossas. Somos espectadores e testemunhas ao mesmo tempo. Se há décadas a noção de interligação passou a ser reforçada a partir da inserção da televisão, hoje em dia esta realidade está tão presente quanto nossas necessidades diárias. A partir da internet, as mídias convergiram, a globalização ganhou novo sentido.

A partir da filosofia de tais assuntos, a semiótica introduziu no modelo de leitura da imagem as noções de denotação e conotação: significado entendido “objetivamente” e “subjetivamente”. Já os antropólogos, sociólogos e historiadores interessam-se pelo uso de imagens como fonte documental de pesquisa. O uso de imagens na pesquisa histórica é crescente, apesar de pouco. A compreensão crítica aborda a cultura visual como um campo de estudos múltiplos e por se tratar de uma abordagem multireferencial e transdisciplinar, minha pesquisa possui bastantes pontos em comum com o texto analisado.

Com o passar dos anos, o ser humano necessita possuir conhecimento sobre tudo, há mais vontade de aprender e se adaptar, devido também ás facilidades, criou-se uma rotina em que o trabalho e o estudo estão em primeiro lugar. O universo é uma rede interligada, uma informação se liga a outra. Por isso, a memória é essencial, o computador por muitos é idolatrado, devido a sua grande memória, aí surge o grande problema: ele tem memória, mas não pensa por si próprio, não é completo. Para os Enciclopedistas, os termos cruciais são: a Memória, a Reflexão, a Razão e a Imaginação. A escrita e a imprensa são vistas como uma maneira de prolongar a memória, mas o que a Enciclopédia faz é reduzir o conhecimento, e para isso ela precisa sempre estar atualizada, muitas vezes, ela precisa ter um ponto de vista especifico.

Com a internet houve a possibilidade de se realizar uma enciclopédia real e completa, sem limites, além de vários problemas resolvidos: a facilidade pra organização e armazenamento, mas o grande problema é que as pessoas lêem as informações esquecem rapidamente. Por não ter limites, é uma fonte que acumula muita informação, tornando o serio o problema de “garimpar” o que é mesmo relevante. O conjunto dos meios de comunicação define a indústria cultural de certo modo, tudo visa o comércio, o que importa é o consumidor conseguir uma qualidade, uma estética, ou seja, tudo o que for preciso para que chame atenção. Adorno mostra as soluções para este problema: a morte deste período da Industria Cultural e a volta a verdadeira arte, que proporciona para as pessoas a volta de sua personalidade sem influencias, com a arte, a massa fica livre para pensar e agir. Porém, as expressões de arte são reprimidas no cotidiano, havendo uma “guerra” psicológica para que o indivíduo viva um padrão imposto sem que possa mostrar sua individualidade e vontades autônomas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O valor da palavra na sociedade consumo

Fernando Caris de Almeida-06005879

Este ensaio é baseado nos textos “O que é filosofia da linguagem”, de William P. Alston, “Informação e Sentido”, de Paulo Serra e “Indústria Cultural: Revisando Adorno e Horkheimer”, Alda Cristina Silva da Costa, Arlene Nazaré Amaral Alves Palheta, Ana Maria Pires Mendes e Ari de Sousa Loureiro.
Muito ouve-se falar sobre a Filosofia da Linguagem, porém, poucas definições temos dela; segundo Alston “A Filosofia da Linguagem está ainda menos bem definida e possui um princípio de unidade ainda menos claro do que a maioria dos outros ramos da Filosofia.”. No entanto, é possível organizar uma lista das fontes de interesse desta área de estudos: primeiramente a Metafísica, que trata de classificar fenômenos supostamente universais. Em segundo lugar, temos a Lógica, que tenta criar critérios para distinguir interferências como válidas ou inválidas. Depois, passamos pela Epistemologia, que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento, neste estudo trata-se de diferir as crenças das verdades para chegar a um ponto de equilíbrio, o conhecimento. Por último temos a Reforma da Linguagem, que, apesar de não concernir necessariamente aos filósofos, discute as deficiências de uma língua em particular. Isto é crucial para a prática da filosofia, pois é através da língua que estruturamos um pensamento.
Já em se tratando do texto de Paulo Serra, pode se observar que ele não acredita no conceito iluminista de que “quanto mais informação, mais conhecimento”. Justamente, ele defende a ideia de que a inflação de informação provoca a deflação de conhecimento, justamente porque a produção de informação está, agora, inserida no contexto do consumo (fato comentado no texto “Indústria Cultural”). Cada vez mais se produz informação em larga escala, porém, essa massa informacional traz pouco sentido, pouco conteúdo. É neste ponto que os três textos se cruzam.
Para produzir informação é preciso que ela esteja baseada em conhecimento, que como foi dito anteriormente, é a combinação de crenças e verdades. No entanto, o que tem acontecido é o uso da informação para um propósito particular. Isso acontece muito, por exemplo, em campanhas políticas, atreladas principalmente à publicidade. A informação é manipulada. O mesmo acontece na televisão, em que a informação é retroativa: a TV fala sobre ela mesma. Temos aí o esvaziamento do conteúdo, o grande problema da informação na sociedade do consumo.
Tornar a informação “mais acessível” ou “democratizada” nem sempre nos traz benefícios. No contexto do consumo, isso é praticamente impossível, pois ela é um produto comercial, o que torna a palavra e as idéias algo “vendável”; o interesse aqui não é crescer intelectualmente, e, sim, financeiramente.

FERNANDO CARIS DE ALMEIDA-06005879

Rede de Informações e Conhecimento e o Cotidiano

Rede de Informações e Conhecimento e o Cotidiano

Uma grande dificuldade da sociedade, neste século, será admitir que tudo o que conhecemos até hoje, está interligado. É tudo um grande nó, um grande sistema, com infinitas conexões, e qualquer alteração em um desses subsistemas, consequentemente afetará todo o resto. A conexão entre assuntos como economia, ecologia, globalização, desenvolvimento tecnológico, é inegável. E é exatamente este conceito que é invisível pela maioria da sociedade, que conseguiu separá-los já cedo, dando ênfase, principalmente, à economia, desequilibrando-a. Para quem trabalha no mercado da economia, negligenciar todo o “resto” é a opção mais eficiente quando o objetivo é lucrar. Afinal, se a economia não tem, por exemplo, ligações com a ecologia e com os problemas que devem ser resolvidos no meio-ambiente, não é dever da própria economia, resolvê-los. Não é a toa que um quinto da riqueza mundial se concentra nas mãos de 1% da população mundial.

O maior problema que se formou, em relação à rotina formada pelo ser humano, e ao qual ele está preso completamente hoje em dia, e à abundância de informação que é jogada em nós diariamente, é que a rotina em que nos acostumamos a viver, e o conhecimento lançado nessa rotina, são destrutivos. Nos vemos, agora, pressionados a mudar tudo isso para que o Mundo não chegue num ponto de flagelação que nos obrigue a mudar totalmente nossos padrões de vida e, pior, que extingue a raça humana.

Mas como mudar algo que diz respeito completamente ao nosso dia-a-dia, e ao modo em que nos acostumamos a viver confortavelmente?

No livro “O ponto de Mutação” (1988), Fritjof CAPRA deixa claro que a degeneração do meio ambiente é a crise principal que enfrentaremos e que já estamos enfrentando, e as outras crises, como a inflação, a ameaça de esgotamento energético, e todas as outras, são conseqüências da crise principal. Portanto, devemos, acima de tudo, centrar nossa atenção na crise do meio-ambiente, arranjando soluções para esta, e focando a resolução dos outros problemas de um modo a ajudar também o meio-ambiente. Porém, a visão geral dos economistas globais é, ainda, antiecológica, e assim são também suas ações, e a conseqüência disso será a depauperação dos recursos naturais de que dependemos totalmente. Para que isto não aconteça, precisamos frear a idéia de crescimento econômico contínuo, e acelerarmos, ao invés, o pensamento de que para cada estrutura de nosso sistema, há uma dimensão ideal. É preciso repensar a dimensão da economia, e colocar prioridades em pauta, dentro da própria economia, como a reciclagem de nossos recursos naturais.

Em “Terra-Pátria”(1996), de Edgar MORIN, vê-se extrema semelhança com as idéias de Capra. Em tal obra, também, a mundialização econômica, se tivesse dimensões equilibradas, igualaria as partes do planeta, mas, como não é o caso, ela vem desigualando-as. Assim também é a tecno-ciência que, de um lado, ao passo que evolui e progride na medicina, de outro, cria armas que podem destruir o mundo diversas vezes.

Paralelo a isto, a televisão e o cinema começam a trazer no cotidiano das pessoas, uma noção que antes não existia: a de que há problemas mundiais, de que fazemos parte, de fato, de um mundo só. Vivemos todos no mesmo lugar, e, com a televisão, assistimos às tragédias de outras pessoas que vivem distantes de nós, mas nem tanto. Somos espectadores agora, portanto somos cúmplices ou testemunhas. A humanidade nasce.

Se há décadas atrás esta noção de interligação com o mundo todo passou a ser reforçada com a inserção da televisão, hoje em dia então, esta realidade está tão presente em nossas vidas quanto nossas necessidades diárias. Com a internet e o celular, as mídias convergem totalmente, e a globalização ganha novo sentido. Mas uma rotina individualista e sem base na preservação do meio ambiente em que vivemos, da qual herdamos de nossos ancestrais, é mais forte. Faz parte da nossa cultura, mas deve mudar, de um jeito ou de outro, por necessidade.

Morin julga ter sido possível, já há décadas atrás, “técnica e materialmente, reduzir as desigualdades, alimentar os famintos, distribuir recursos, atenuar o crescimento demográfico, diminuir as degradações ecológicas, mudar o trabalho, criar diversas altas instâncias planetárias de regulação e de proteção, desenvolver a ONU como verdadeira Sociedade das nações, civilizar a Terra.” de acordo com as técnicas, informações e comunicações que já tínhamos em mãos. aconteceu a terceira revolução tecnológica, que uniu a computação com a informática, com a comunicação, e diminuiu barreiras de espaço e distância. Deveríamos ter nos preparado para receber essa revolução de modo a usá-la para resolvermos os problemas já existentes há décadas em nossas vidas. O que devemos fazer agora, portanto, é pensar de forma planetária e política, e traçar a idéia de inseparabilidade entre os assuntos e acontecimentos - esta é a essência do pensamento sistêmico.

Fritjof CAPRA, em “Ponto de Mutação” (1988), também relaciona os problemas planetários à política, mas acusa que os políticos, junto com os meios de comunicação de massa, estão desorientados e não sabem quais dos problemas priorizarem, sendo que não se pode priorizar nenhum no momento, pois tudo vem de uma mesma crise. Novamente em sintonia com Morin, Capra sente a preocupação dos cidadãos com as questões sociais e ambientais antes de qualquer outra grande potencia. Tais cidadãos sentem a necessidade de se criar tecnologias brandas, que não sejam tão agressivas ao meio ambiente, e de consumir menos. Ainda é uma minoria que pensa assim, mas já é um começo.

A cada geração, o ser humano necessita ter mais conhecimento geral sobre tudo, mais vontade de aprender e se adaptar a uma rotina em que o trabalho e o estudo estão sempre em primeiro lugar. Pensando no Universo como uma rede interligada, uma informação se prende a outra, e, assim, quanto mais se retém informação, mais novas informações aparecerão. Mas infelizmente, como dito acima, é fácil negligenciar determinadas linhas de pensamento no processo de ensino, já na infância, e ter como base outras linhas de conhecimento que giram em torno, normalmente, do método de memorização de informações necessárias para se passar do vestibular. Não se deve ser pregada a tática de enterrar o aluno com informações sem parar, mas se isso fosse feito pelo menos com informações úteis para que o cotidiano do aluno já fosse construído de modo a se viver de forma sustentável, seria um grande adianto.


Liana Mastrocola

A Linguagem, os Meios de Comunicação e a Indústria Cultural

O interesse que a filosofia tem em relação à linguagem, se divide em três ramos, que são a Metafísica, a Lógica e a Epistemologia. Primeiramente, temos que entender que as palavras, os símbolos e etc., podem ser interpretados de varias maneiras, e essas diferentes formas que podem surgir, dependem das mais diversas proposições que podem ser utilizadas. Os enunciados envolvidos com as palavras são de grande relevância e fazem ela ter uma lógica, os diferentes enunciados fazem com que as frases, mesmo sendo muito parecidas, tenham mais ou menos importância por exemplo. A Epistemologia ou a Teoria do Conhecimento envolve o motivo das pessoas já saberem a resposta de muitas coisas, por exemplo, com a matemática quando 2 mais 2 será sempre igual a 4. É difícil entender como podemos ter tanta certeza de algumas coisas.
A cada lugar que vamos, encontramos um jeito de falar diferente, existem hoje, inúmeras línguas, algumas consideradas mais importantes do que outras. Mesmo sem irmos muito longe, nos deparamos com sotaques e gírias diversas, todos querendo dizer uma mesma coisa. É assim, que começamos conseguir reparar a enorme diferença de linguagem que existe no Mundo.
A idéia, é conseguir criar uma linguagem universal, como já existem vários símbolos, por exemplo na internet, que são entendidos por todos. É possível termos um Mundo onde é criado um Meta Mundo ou uma Metalinguagem, criando assim, um outro universo de linguagem que fosse possível mediar. A primeira coisa é impor uma regra, ou seja, uma maneira de organização para a linguagem. Porem, no máximo teremos pequenos grupos de linguagem, ou seja, isso muito provavelmente funcionaria em pequenos núcleos.
O hipertexto faz parte desta perspectiva, ou seja, ele é como a ultima estratégia de voltar para um controle, porém é um controle mais flexível. Atualmente, a informação já é feita para ser esquecida. A linguagem por si só já é um elemento, um produto social, o elemento semântico, tem um sentido coletivo. A idéia de hipertexto está relacionada a justa posição das partes, ou seja, ela é relacional, pública e coletiva até determinado momento. As ferramentas que tem uma sobre vida, é aquela mais rápida, aquela que rapidamente te supre, nossa referêcia não é para criar, e sim usar as ferramentas.
É importante lembrar e relevar, que a fala é dada em um lugar publico, a linguagem é relacional, este sentido também trabalha no aspecto de ser inacabado (designo), ou seja, possui um projeto que não possui um FIM útil, ele é visto somente com a questão da mediação, essa idéia de mediação tem uma perspectiva de processo. Esta reforma da linguagem seria de grande importância e muito interessante esta relação que os filósofos estão tendo, os diferentes significados que uma palavra pode ter por exemplo, as combinações existentes, as teorias, as expressões, as contradições, os conceitos, tudo vem tendo uma grande importância para os filósofos, que trabalham o assunto com muita determinação e também muita cautela, pois a criação de linguagens, ou da linguagem, é de sempre uma enorme importância.
Hoje, estamos cada vez mais acumulando informação, com as novas tecnologias, com a mídia, com as novidades inclusas no nosso dia a dia, faz com que muita informação acabe sendo em vez de satisfatória, prejudicial. Como diz no texto, Baudrillard defende que - "estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido". E com essa explosão de informação, fica difícil de saber o que é realmente certo e o que não é.
A memória tem grande importância neste assunto, pois todos querem que ela consiga guardar seguramente os conteúdos que a pessoa acumula. O computador por muitos é idolatrado, por ter uma grande memória pra as pessoas poderem guardar e quando quiser relembrar por ele, porem isso é um pensamento conturbado, pois não podemos usar a memória para o excesso das nossas informações, se nem mesmo nós conseguimos saber se são relevantes.
Para os Enciclopedistas, os termos em relevância são a Memória, a Reflexão, a Razão e a Imaginação. Para a informação ter significância e importância, é muito importante saber peneirar o que realmente é certo e vale a pena acrescentar e o que não é e não vale, nem que para isso seja preciso apagar da memória as lembranças que não servem mais, assim substituindo por uma memória racional. Temos que conseguir assim, informações importantes para ela poder ser passada de gerações para gerações.
Os conhecimentos humanos podem ser separados de duas maneiras, os conhecimentos directos, que recebemos sem querer e os conhecimentos reflexos, que é resultado de uma reflexão como o próprio nome já diz, de uma combinação.
A escrita e a imprensa é vista no texto como uma maneira de prolongar a memória, uma memória relativamente artificial, para determinado assunto, elas assim, fazem parte da Lógica. As memórias artificiais, geram alguns problemas como por exemplo a alteração constante dos conhecimentos nas ciências e nas arte. O que a Enciclopédia quer realmente é reduzir o conhecimento, e para isso ela precisa sempre está muito bem atualizada, e pela quantidade de informação que se tem sobre um mesmo assunto muitas vezes, ela precisa ter um ponto de vista especifico.
O texto retrata as duas principais fontes na atualidade de informação, ou seja, os jornais e a enciclopédia, nos jornais as pessoas encontram as noticias atuais, que devem ser esquecidas logo depois, e na enciclopédia, as pessoas encontram um conteúdo mais memorável, ou seja, um conteúdo estudado, cientifico, histórico, etc., e escolhido para posteriormente poder informar com toda a certeza a todos.
As enciclopédias, estão cada vez mais grossas, com mais informações, e assim menos completa. E alem disso, as mídias estão promovendo essas informações de maneira mais atraente, porem mais informal, fazendo com que as pessoas esqueçam rápido sobre o assunto.
A internet, com sua capacidade de realizar uma enciclopédia real e super completa, não tem limites, ela pode armazenar exageradamente informações, Com ela, vários problemas seriam resolvidos, como por exemplo, a facilidade pra organização, mas o grande problema é que alem da plataforma que ela está, fazendo com que as pessoas que lêem as informações esqueçam rapidamente, é uma fonte que acumula muita informação por não ter limites, tornando o serio o problema de peneirar o que é mesmo relevante. Se a tecnologia for usada, é necessário existir uma que não tenha infinitude, que tenha restrições, e que informe corretamente, como as enciclopédias, que colocam as informações depois de muita pesquisa, estudo e dedicação, pois ao fazê-la todos já sabem que seu conteúdo passara em gerações.
O conjunto dos meios de comunicação, como por exemplo, o cinema, define a indústria cultural, e de certo modo a população é manipulada por ela. Tudo se concentra no comercio, o conteúdo na grande maioria das vezes não interessa, pois o que importa é a quantidade de consumidor, e para isso existir, precisa conseguir uma qualidade, uma estética, ou seja, tudo o que for preciso para que chame atenção.
A indústria hoje é como se fosse uma instituição social, é uma indústria como se diz no texto, eminentemente técnica, diferente de antes, quando a palavra indústria, se referia á uma habilidade individual, como habilidade, perseverança e etc.. E por isso, é que a sociedade está cada vez mais sendo conduzida pela técnica. No texto, Adorno e Horkheimer dizem que não estamos mais vivendo em uma cultura de massa, e sim, assistimos aos desfiles da indústria cultural.
Neste período, o consumidor deixa de ter o papel principal, e se torna o objeto. Todas as plataformas midiáticas possuem relação, ou conexão com os produtos que serão consumidos, assim é formado um padrão que é totalmente seguido. Com isso, a cultura vai ficando cada vez mais fraca, ou vai se modificando, de acordo com as técnicas que estão sendo oferecidas, e a indústria cultural, mostra bem isso.
A economia está totalmente ligada a está época, e faz com que os indivíduos vivam cada vez mais sozinhos e se tornando cada dia mais ilusórios. Já está marcada uma padronização que a população se acostumou a seguir, e isto acontece com a musica, com os estilos, com as personalidades e etc. Por esses motivos econômicos, a publicidade se encontra totalmente presente, as pessoas, mesmo sabendo que não necessitam daquilo, querem cada vez mais adquirir materiais, fazendo com que a publicidade tenha as duas coisas que quer, a população consumindo seus produtos e acima de tudo dando audiência.
A Indústria Cultural modela as pessoas através do interesse comercial, a população se encanta e acaba querendo se identificar com os filmes, imagens, lojas, ou seja, com todas as formas de produto e acaba se delimitando automaticamente, perdendo seu olhar critico e autônomo. As pessoas pararam de pensar por si próprias por causa da presença em tudo da industria cultural, é propositalmente perseguidora da população, fazendo assim, ela escrava desse meio.
Com o homem sendo tão bem manipulado, ele se torna individualista e consumista, nem mesmo na hora da diversão isso é deixado de lado, por exemplo com o cinema, que sempre foi lugar para se divertir, hoje as pessoas procuram essa diversão mas não conseguem ver o que há por trás, que é a manipulação, o consumismo, o domínio, etc., conseqüentes também desta evolução tecnológica.
A única opção que resta para as pessoas é escolher o tipo de manipulação que ela sofrerá. Está em todos os lugares e ninguém pode escapar deste capitalismo, o desejo de estar neste meio só aumenta, pois o que antes era opção, hoje se tornou necessidade. No texto, Adorno mostra as soluções que ele mostra para este problema, que é a morte deste período da Industria Cultural, e com a arte, ele diz que a arte proporciona para as pessoas a volta de sua personalidade, pois ela permite a expressão própria da pessoa, sem influencias, com a arte o individuo, fica livre para pensar e assim agir.

Coesão social e comunicação

O cotidiano é identificado como um “lugar', com espaço e tempo constituídos de um processo de socialização que relaciona o individuo ao grupo, onde ocorrem misturas de personalidade de comportamentos, que acabam formando grupos definidos pela coesão social. Assim, o cotidiano é o lugar onde os indivíduos agem, se reconhecem e assim podem formar a sua história.

Tudo que é algo extraordinário do comum, como atos políticos históricos por exemplo, surgiu do cotidiano, ou seja, ele sustenta a tudo que lhe sobrepõe.

É no cotidiano que forma-se o senso comum, tudo que pode ser reconhecido como algo bom ou ruim para as realizações diárias pelos indivíduos. Aprende-se a agir, evitar, aceitas e questionar previamente os acontecimentos do cotidiano através de códigos impostos pelas relações familiares, amigos, atos estranhos, religião e arte.

Contravimos nossa existência como percepção da nossa humanidade e da diferença que estabelecemos com o outro, no cotidiano construirmos nossa identidade que sempre esta relacionada a aceitação de algum grupo, com suas tradições determinadas pela “normalidade” do senso comum.

Podemos observar o estranhamento da ordem do dia-a-dia na quebra dos movimentos que são considerados cotidianos como: trabalho e ócio, greve, obediência ao pai e revolta, fidelidade e traição e etc.

A cultura o código cultural caracteriza o modo como os indivíduos de comportam na coletividade social e marcam sua história dentro dela. É um exercício de encontrar-se no mundo e interpretar-se a si mesmo, para orientar sua vida individual e coletiva. Como não vivemos sozinhos, muitos de nossos conflitos são diálogos entre nossa individualidade e o coletivo, e só podemos expressar essas indagações e afirmar a nossa existência através da comunicação.

Porém essa individualidade é constantemente massificada, tornando os indivíduos anônimos e alheios, que permitem serem conduzidos sem que haja questionamento sobre a que fins estão sendo levados. Nesse sentido o cotidiano é opressor, pois a imposição da ordem de permanência e aceitação, sob pena de exclusão, obriga o individuo a pensar que a vida humana somente é possível no grupo regido pela ordem do cotidiano. O cotidiano não significa agir do mesmo modo diariamente, mas ser guiado pelo senso comum.

Sabendo que a comunicação é a única forma que faz o individuo reconhecer-se e sair dos esteriótipos formados pelo senso cultural, outra batalha é travada entre os meios de comunicação e sua própria existência. Sabendo que o individuo só tem como arma a comunicação, o poder se integra nos meios de massa para padronizar mensagens de estimulo a inclusão social sem que haja questionamento novamente. As pessoas crescem de frente para a TV, pensando que para serem felizes precisam pertencer a algum grupo e terem tal quantidade de dinheiro.

Como a formação é só a recepção de mensagens, o receptor assume apenas essa função e esquece que pode emitir algo.

As expressões de arte são reprimidas no cotidiano. Há uma verdadeira batalha tanto física como psicológica para que o individuo viva um padrão sem que possa mostrar sua individualidade, ele esta destinado a ter sua existência inclusa em uma tribo urbana.

Por isso observar o cotidiano pode ser um ponto de partida para mudanças e interpretaçõs historias que revelam o esforço da afirmação do ser humano para si e para as outras pessoas. Uma revolução social só pode ser iniciada através de um estudo histórico e do reconhecimento do valor de si mesmo.


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