Segundo Norval Baitello a incomunicação é irmã gêmea da comunicação e elas estão sempre juntas, onde uma está à outra está também. Elas também crescem juntas e estão sempre em disputa por espaço. A incomunicação obviamente é a irmã indesejada e por vezes esquecida, mas está sempre presente a atrapalhar e boicotar a comunicação. São vários os nomes que se dá a incomunicação, no estudo clássico de comunicação por exemplo locutor – mensagem – receptor ela é conhecida como ruído.
Como irmãs gêmeas comunicação e incomunicação crescem juntas, assim quanto mais criamos meios e desenvolvemos tecnologias pra nos comunicarmos se ampliam também na mesma proporção os caminhos para a incomunicação.
Um ótimo exemplo desse fenômeno é o excesso causado pelos nossos meios de comunicação hoje, quanto mais informação nos é oferecida, parece que menos conseguimos absorver, pois a enxurrada de informação nos deixa atordoados e na tentativa de captarmos o máximo possível acabamos por não reter nada “a gente lê jornal para esquecer”, o jornal é feito pra ser esquecido, o programa de tv é feito para ser esquecido. No livro “A pele da Cultura” o autor Derrice de Kerckove relata sua participação em um experimento que mostra como o corpo reage ao estímulo da TV muito antes que a pessoa possa raciocinar sobre o que está vendo, chegando a conclusão de que “A TV fala ao corpo, não a mente”, a maneira como a informação é processada pela tv nos deixa pouco tempo para pensar no que estamos vendo. É um meio onde a incomunicação se faz presente sem o menor pudor. Outra idéia interessante levantada no texto é a de que crianças criadas desde pequenas vendo muita tv e principalmente as de lares com pouca ou nenhuma escolaridade, ou seja, que não foram estimuladas a ler, criariam uma forma diferente de ver as coisas, essa forma diferente é no texto chamada de “olhadelas rápidas”, essas crianças então aprenderiam a aprender por olhadelas rápidas e quando fossem ler um texto tentariam fazê-lo através desse processo, e esse não funcionaria. “Em vez de explorar os textos pra criar e armazenar imagens, as crianças que vêem tv são obrigadas a produzir generalizações a partir de fragmentos dispersos e assim reconstituírem o objeto da visão. È muito diferente de dar nomes aos objetos e alinhá-los em frases coerentes.”
O autor diz ainda que é preciso aprender regras e realizar práticas repetitivas para se aprender a ler e mais ainda para se aprender a entender um texto, mas “ninguém precisa de qualquer instrução para ver televisão”.
Voltando a lógica do excesso Baitello diz ainda: “Vivemos (e morremos) nos excessos do tempo e no tempo dos excessos.” O autor fala novamente sobre esses excessos em outro texto tratando-os como “A visibilidade que gera invisibilidade” é novamente o exagero em mostrar que acaba por produzir o efeito contrário, “esse duplo movimento de exacerbação-desaparecimento é típico de todos os conformismos” (Michel Mafferoli). Baitello cita Harry Pross ao falar sobre “verticalismo”, e como a obsessão ao vertical nos leva a “uma luta permanente em direção ao mais alto. Embora o mais alto seja o nada, o vazio, o inóspito, o inabitável espaço; embora o mais alto seja a condição inalcançável dos deuses e dos seres celestiais imaginários, imateriais, sem corpo e sem humanidade, portanto sem vida.”
Através de Flusser Baitello fala também sobre a perda das dimensões, como o homem passou da comunicação corporal de três dimensões para a imagem com duas dimensões para então passar a escrita com uma dimensão chegando a comunicação digital sem nenhuma dimensão e que a partir dessa nulodimensão o homem passou a reconstruir virtualmente as outras. A preocupação do autor é se essa redução do espaço externo da comunicação, “das horizontais da sociabilidade” não se reduziria também o espaço interno de comunicação consigo mesmo. Se eu só me reconheço a partir do outro, se eu só sou eu na relação com o outro, então a preocupação do autor faz sentido, pois se a relação de comunicação com o outro é de alguma forma prejudicada, segundo o movimento de reconhecimento de si citado acima, a relação com o eu também estaria prejudicada.
Essa incomunicação geraria então segundo o autor dois efeitos: “Estaremos cortando nossos vínculos com os outros seres e estaremos cortando os vínculos conosco mesmos...Mas, o que fica no lugar dos vínculos rompidos? Ficam os fantasmas dos vínculos. A eles é que damos os nomes de ‘incomunicação’.” Será que esses fantasmas também poderiam ser chamados de “Inter(in)compreensão negociada” ?
Luciana Torres Roza Matrícula:06006655
sábado, 27 de junho de 2009
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