sexta-feira, 26 de junho de 2009

Hipertexto

HIPERTEXTO
Tarsila Guimarães Danieletto - 06005340

A comunicação hipertextual quebrou com a tradição da oralidade e da escrita. Algumas características destas tradições foram exploradas mais a fundo, reformuladas e incorporadas à cultura do hipertexto, outras, porém, foram completamente substituídas, fazendo surgir assim, novos gêneros narrativos.
Diante de tantas influencias e ainda em processo de construção, pode-se considerar que o hipertexto é um produto cultural que está ligado à própria forma de narrar e pensar o mundo. É uma convergência entre teorias e experiências tecnológicas, no qual o computador é o aparato tecnológico que o termo foi vinculado. Porém, um texto com caráter textual, não significa que é um texto feito no, nem para o computador, mas sim uma forma de percorrer o texto topograficamente e não como uma obra fechada e completa. Algumas das propriedades hoje vinculadas ao que se chama de hipertexto já podiam ser observadas nas obras literárias de séculos passados.
Sabendo que o presente se constrói a partir de teorias do passado, características frequentemente atribuídas ao hipertexto encontram-se dispersas ao longo da tradição literária que não foram datadas no período histórico. Estas são heranças dos limiares dos séculos XVI e XVII, desde que Cervantes já explorava alguns recursos de escrita em teia, conexão, quebra de linearidade, variedade de recursos gráficos (que obviamente, não surgiram com o computador).
Tais características também remetem às obras labirínticas de James Joyce, em Ulysses (1922). Ou mesmo na obra Jogo de Amarelinhas (1966), de Julio Cortázar, em que o autor opta pela estrutura de escrita aleatória e aberta à escolha do leitor. O livro permite ao leitor criar variantes combinatórias entre as partes, que caracteriza a multilinearidade ou a multiplicidade de percursos do hipertexto.
Nos projetos de poetas concretistas e modernistas, a palavra era vista mais como um ícone e um tópos do que como uma unidade semântica, o que também se antecipa ao recurso hipertextual de usar as palavras como links.
Marcado por características como a escrita em teia, a conexão, a quebra da linearidade, a variedade de recursos gráficos, o hipertexto é formado por uma estrutura completamente manipulada, com texto ilimitado, sem inicio nem fim, que se expande para incluir as interpretações do leitor, que se multiplica pelo método de germinação descentrado desvinculado de uma raiz.
Possui recursos paratextuais e links (sinais, marcas, palavras que explicitam a ligação entre pontos distantes) que encorajam o leitor a se mover de um intertítulo a outro de forma não-sequencial, a fazer suas próprias conexões incorporando seus próprios links e produzir seus próprios recursos.
É uma obra rizoma que se opõe à arquitetura vertical e hierárquica de uma obra-árvore, cujos galhos e ramificações estão subordinados a uma única raiz central.
Rizoma é um crescimento orgânico caótico, interceptado e ramificado pelo meio, de forma que todos os extremos mantém em si uma comunicação em rede. Os princípios impostos pela obra rizoma são os da Multiplicidade (onde o todo é uma pluralidade ou uma instancia coletiva de subjetividades que se instauram em um texto); o da Heterogeneidade (diversidade de linguagens verbais e não verbais, códigos lingüísticos, gestuais e ícones diversos que reenviam a leitura a sistemas externos); Ruptura assignificante (em que um texto pode ser quebrado em qualquer ponto e também se reconstituir de qualquer outro segundo uma lógica de antilinearidade e autonomia das partes em relação ao todo); a Inrterconectividade (principio pelo qual qualquer ponto deve ser conectado a outro); a Cartografia (idéia de que um texto é um conjunto de linhas a ser percorrido); e a Decalcomania (principio pelo qual a obra não é uma imagem que copia ou imita o mundo, mas um mapa de linhas que remetem a ele. Por um principio de auto-referencia, a obra não tem sujeito nem objeto porque o objeto da leitura é ela mesma).
Dentre as características do hipertexto, nota-se que este se apropria mais da tradição oral do que da escrita, pois, há um enfrentamento claro com o texto, que está completamente preso à materialidade do livro. Além da forma do texto, houve uma grande transformação na função do autor, que passou a ser vista como uma entre as tantas outras funções do sujeito. Deixou-se de se espelhar o autor na pessoa do escritor para constituí-lo como entidade lingüística e sujeito de enunciação descentrado e multiplicado no jogo de vozes narrativas. O “eu literário” emancipou-se ao “eu empírico” de quem narra ou escreve, no que se denominou, metaforicamente, “a morte do autor”.
Já que o autor perdeu a posse do significado do texto, não faz mais sentido uma intenção autoral, mesmo porque, abriram-se prerrogativas de co-autoria para o leitor, não só na (re) interpretação, mas na conclusão da obra. Está é a noção de Umberto Eco de “obra aberta” como referencia às obras que guardam um gesto de incompletude e indeterminação que encoraja a visão do leitor como co-autor ou co-produtor.
Utilizando o palimpsesto como figura, pode-se formular o conceito das relações que todo hipertexto mantém com o hipotexto, o texto de origem.
Já que este é a capacidade de se reescrever, pensar o palimpsesto como uma sobreposição de camadas de escrituras ajuda a pensar o próprio meio eletrônico, onde é possível abrir simultaneamente diversas janelas e escrever sobre um texto sem apagar o original.
Por manter relações diretas, que estimulam a troca de informação e/ou interação, sua existência tem haver com um jogo de estratégia, pois está, na maioria das vezes, preocupado em trazer o outro ao campo de decisão, optar por uma saída ou fazer escolhas e por isso, pode ser entendido como um sistema vivo.
Dotado de formas labirínticas, rizomas, fragmentações, construções circulares e caóticas que permitem diferentes possibilidades de interpretação, que colocam em jogo a interatividade e o acaso.
É dentro de um contexto teórico e literário muito complexo que nasce a teoria do hipertexto, como emergência do novo antigo, como uma teoria-palimpsesto, que não apaga as anteriores, mas, se molda e transforma diante destas.




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