Atualmente existem inúmeras teorias e discussões a respeito do hipertexto. Há evidências de que a linguagem hipertextual não surgiu do computador ou segundo aparatos tecnológicos; o emprego de linguagens e recursos múltiplos já foi experimentado na literatura e poesia, por exemplo. O hipertexto se apropria de características não somente da escrita, mas também da oralidade, comunicações primárias e básicas entre as pessoas. Entretanto, ao falarmos de hipertexto hoje é quase impossível desvincula-lo da linguagem digital e da tecnologia. O “novo”, justamente pelo seu caráter de novidade, sempre atrai mais os olhares.
É curioso como o hipertexto algumas vezes recebe uma atenção e dedicação como se sua linguagem fosse algo revolucionário e que virá para conectar a todos, sem exceção, na incrível rede digital/global na qual estamos inseridos. É fato de que seus conceitos são bem atrativos: a não linearidade, a possibilidade de ser um co-autor de uma obra, a junção de mídias para se passar a informação (uma vez que, aparentemente, uma só linguagem parece não ser mais suficiente para se transmitir uma mensagem) e, claro, a idéia de que você pode interagir com a obra, modificá-la, não ser mais um mero consumidor passivo, mas também produtor e emissor de mensagens.
A interatividade é o conceito da vez. Tudo tem de ser interativo: os sites que você navega, seu celular, o conteúdo da TV. Não dá mais apenas para ficar recebendo informação; é preciso poder modificá-la. Contudo, devemos questionar esta possível modificação, esta liberdade dada ao espectador/usuário para interagir com a obra.
Interatividade pressupõe a capacidade do “outro” decidir. A primeira vista isto parece tentador, mas é óbvio pensar de que esta liberdade possui limitadores. Nenhum veículo de comunicação dá total liberdade ao receptor (nem mesmo o emissor possui tal autonomia) sem nenhuma limitação, seja esta técnica ou, mais comum, sobre seu conteúdo.
O grande problema da atualidade é reconhecer o outro e, principalmente, aceitá-lo. É difícil se colocar no lugar do outro inteiramente, entender e aceitar seus gostos e costumes, sem abrir mão de paradigmas já inseridos em seu próprio interior. Essa diferença gera conflitos que, normalmente, são encarados como ruído, uma coisa a ser evitada. Por isso a interatividade cria mecanismos que façam com que o usuário se sinta livre para fazer escolhas que, na verdade, já são pré-estabelecidas.
Então cria-se um “outro”, um protótipo de receptor. Se imagina o que o “outro”vai pensar, o que irá fazer, qual caminho irá seguir. São criadas as possibilidades de escolha dentro deste conceito. Isto nada mais é do que uma forma de controle; é mais fácil evitar a diferença entre as pessoas (e consequentemente o conflito) e coloca-las no mesmo patamar, criando assim uma indiferença coletiva.
Por causa deste esvaziamento da enorme complexidade de cada indivíduo, a interatividade proposta pelo hipertexto nada mais é do que um “acordo” superficial: nos dão o poder da escolha, mas antes selecionam o que pode ser escolhido. E é esta interatividade que está sendo tão idolatrada nos dias de hoje.
A discussão sobre o hipertexto, apesar de constante, muitas vezes parece um pouco frágil em seus conceitos. A maioria parece exaltar suas características como a intertextualidade, multilinearidade, conexão por links e a própria interatividade o que ao passa de uma discussão baseada em quesitos técnicos de sua linguagem. Apenas o avanço tecnológico, de suporte e equipamentos, não é o bastante para se criar uma linguagem com qualidade. O básico, a comunicação entra as pessoas, a mídia primária, está sendo esquecida a fim de usufruirmos de um conceito dito mais moderno ou atual.
De que vai adiantar criarmos mídias cada vez mais avançadas que, na verdade, estão apenas intermediando informação e não sociabilizando seus usuários? Alguns teóricos preferem seguir discutindo e exaltando o hipertexto em sua superficialidade, acreditando que isto irá mudar os parâmetros da comunicação. Que haverá mudanças, isto é indiscutível. O problema é se elas serão benéficas ou não. É preciso lembrar que (pelo menos por enquanto) máquinas não se comunicam sozinhas. E enquanto encararmos as diferenças entre as pessoas como sendo algo a ser evitado/combatido, a tendência é a de que nos tornemos vazios, sem conteúdo, assim como as máquinas. E de que nos servirá uma nova linguagem sem nada para ser dito além de coisas vazias?
quarta-feira, 24 de junho de 2009
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