terça-feira, 30 de junho de 2009

Dissecação, abstração e pensamento - Cinthia

Dissecação, abstração e pensamento

Aqui compreendo que o mais coerente e provavelmente o adequado para uma análise lógica do objeto é o seu recorte, o seu isolamento. Escolher dois temas discutidos em aula e discorrer sobre eles. Não vejo como pode ser possível, mesmo porque, o professor pode recordar que a cada aula os assuntos se cruzavam, sempre um exercício de rememoração e antecipação e muita imaginação. Portanto, seguindo essa lógica e debruçando-me na esteira da complexidade (essa você gostou!!!) pretendo discorrer a respeito de diferentes assuntos discutidos em aula, que estão intimamente ligados e intrinsecamente relacionados. E ainda que todos eles habitam reflexões da perspectiva hipertextual.
Eu e tú e nós e eles. Processos de abstração, construção, busca, fuga, reconhecimento, re-conhecimento, imagem, construção, construção, construção. Reflexos, reflexão, imagem, imaginação.
Aquela frase do Nietzsche
“trabalhamos apenas com coisas que não existem linhas, planos, corpos, átomos, intervalos divisíveis de tempo, espaços divisíveis. Como podem as explicações serem possíveis quando primeiro transformamos tudo em uma imagem, nossa imagem”
Este é o pensamento que norteia as linhas da discussão. Aqui Nietzsche fala do processo de abstração, que, de acordo com as nossas discussões em aula, é o próprio processo do pensamento. A abstração é um processo de fragmentação que o homem efetua ao codificar as informações externas em fragmentos abstratos, ou seja, o processo de raciocínio. O pensamento então realiza por meio de associações (ligações) a construção de um todo, o sentido. Ou seja, ele parte de imagens abstratas e constrói uma imagem concreta que tenha sentido para ele mesmo. O abstrato e o concreto estão dentro da mente humana. Uma imagem pode ser abstrata e concreta neste sentido. E todo pensamento constitui-se da relação com o mundo interno e externo à mente humana. Raciocínar: dividir, separar, reduzir, isolar, dissecar. E o resultado mais sofisticado deste processo se materializou inicialmente com a invenção do alfabeto fonético. Mas este não foi obviamente a primeira forma escrita de comunicação. Antes tivemos os pictogramáticos, os hieroglíficos, as inscrições rupestres, Enfim, mas o que fica facilmente visível é que o pensamento foi se fragmentando cada vez mais.e mais. Como que a compreensão só fosse efetivamente possível na incomopreensão, já que só busca-se a compreensão de algo que não se compreende. Muito filosófico né!? Ok, vou mudar a linha e tentar ser mais concreta. Digo objetiva.
A passagem da cultura oral para a escrita e dessa para a exacerbação da abstração do alfabeto fonético demonstra o distanciamento do homem com o seu ambiente. Passamos a nos relacionar com a realidade a partir da compreensão (movimento do abstrato ao concreto) que temos dessa própria realidade. Não seria então já viver numa hiperrealidade? Antes mesmo das máquinas de imagens (todas as formas de reprodução e decalque do real) não seria o próprio homem uma máquina de imagem? Mas, pensamos palavras, e palavras não são imagens elas apenas as nomeiam. Qual seria a imagem de uma palavra? Ora dependerá da palavra, mas a sua imagem nunca será a união de letras em sílabas e destas em palavras, a não ser que esteja estudando o alfabeto. Neste contexto a sua imagem é a própria letra ou palavra.
Para McLuhan
“as letras são a linguagem da civilização porque traduzem o homem tribal de seu complexo auditivo e tátil para um complexo visual simples que chamamos racional desde que foi inventado”.
Em outras palavras supressão dos demais sentidos em favorecimento da visão. Um empobrecimento da capacidade de percepção, compreensão da relação do homem com mundo.
Pensando na tese das tecnologias enquanto extensões humanas o alfabeto pode ser encarado como uma extensão, mesmo que limitada, do pensamento humano. É necessário pontuar: pensar não é compreender. Compreensão está para conhecimento muito mais que para pensamento. Neste a compreensão vai depender da capacidade e do nível de ligações/ conexões que estabelecer na direção do sentido.
Sentido. Que palavra! Poderia dizer que da comunicação das células, dos órgãos, do sistema que compõe o meu corpo que o sentido neste contexto é o próprio corpo? Uma imagem concreta, gerada de outras imagens também concretas, mas que na medida em que continuamos dividindo (corpo, órgãos, células, átomos) a imagem também vai se fragmentando tornando-se cada vez mais abstrata. Pensar a origem da vida do universo, tanta a abstração e tanta imaginação. E assim caminha a humanidade sempre numa relação antagônica, bipolar, vida e morte, real e imaginário, documental e ficcional, pessoa e persona, facts e fakes, verdades e mentiras. O meio termo é um espaço ignorado. Por quê?
É sempre aquela idéia: ou você é ou você não é. O meio termo não é você não ser, é admitir que você só é porque não é, ou seja, o não ser contém o ser assim como o ser csó é pelo não ser. Eu sei que é muita filosofia, mas seguindo em frente. Não falo aqui da questão do reconhecimento de si no outro ou da relação senhor-escravo, mas antes, que a própria realização do senhor ou do escravo se dá num espaço entre o que é e o que pode ser, ou ainda do que cada um compreende por sê-lo. Ou seja, é sempre uma construção de si que se dá entre o que se imagina (na imagem que fazemos de nós mesmos) e as possibilidades de composição desta imagem.em direção a uma imagem concreta, real, material, física. Que não deixa de ser simulação e nem por isso é menos real. O ponto fundamental é a relação que se tem com os níves de construção de realidade. Talvez pelo nível tecnológico que se encontra a civilização humana a nossa realidade (que abrange inclusive a própria existência humana e de sua civilização) se transforma na medida em que a construção que o homem faz da sua realidade interfere na realização dela mesma. Como tem sido toda a construção da civilização humana.
Pontuando.
O raciocínio gera o alfabeto, nos distancia da natureza (realidade independente do ser humano) nos ensina a isolar reduzir fragmentar, nos possibilita avanços científicos, artísticos, tecnológicos, e, se a tendência, o caminho do raciocínio é a fragmentação e ao longo dos séculos a busca do sentido da vida tem caminhado na direção de sua decomposição, dissecação. Ainda não encontramos um jeito criativo de compor essas partes para então começar a compreender um pouco a vida.
A desmaterialização não é fragmentação, o grande mal dos meios de comunicação não está no âmbito das relações humanas mas no seu uso exagerado em função do capitalismo. Na relação verdade e mentira que se tem com imagens e determinados veículos de comunicação e a idéia de realidade. Há que se levar em conta que a perspectiva das construções e a realidade habita níveis de construções. A relação humana com as imagens que também possuem níveis diferentes de compressnão. As imagens existem dentro e forma do homem, imagem é tudo aquilo que é visível em forma e conteúdo, e se a nossa forma de pensar se traduz em imagens então esta relação precisa ser observada, pois nesse caminho, é dessa relação que se realiza a história humana.

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