A teoria do prazer e do sofrimento, apresentada por Bentham, ilustra a dificuldade de precisar e quantificar o sentimento. Em primeiro lugar, o autor expõe critérios para uma suposta avaliação: intensidade, duração, certeza (ou incerteza) e proximidade (ou longinquidade). Estes “itens” podem ser alterados por três condicionais: fecundidade, ou a capacidade do sofrimento (ou prazer) de se espalhar, pureza, ou a quantidade menos equívoca de sentimento, e, finalmente, a amplitude, ou o número de pessoas que este sentimento afeta.
Colocado isso, sofrimento e prazer são colocados como forças opostas, assim como negativo e positivo. A partir dessa conclusão, pode parecer possível calcular a intensidade e duração de sentimentos, mas ao considerar as idiossincrasias humanas, a tarefa torna-se praticamente impossível, pois cada indivíduo dá sua resposta.
O autor entra na questão política quando menciona, ao invés do sentimento em si, a relação do indivíduo com o sentimento. Cada um de nós tem desejos e realizações a perseguir, e por isso, somos colocados como criaturas que buscam o prazer acima de tudo, e essa busca é tão inexata quanto a tentativa de calcular sentimentos.
O sujeito nunca está satisfeito; ao consumar o que é desejado e supostamente lhe dará prazer, começa uma nova busca em direção de outra consumação que resultará em prazer. Acontece o oposto com o sofrimento: tanta ou mais energia é dispensada na fuga do dele, e, hoje em dia, há segmentos marqueteiros inteiros voltados para isso: o prazer é dado e o sofrimento evitado por produtos que podem ser comprados.
O homem moderno confunde a ideia de prazer com o conceito de felicidade. Ao invés de perseguir desejos para saciá-los e conseguir prazer, a ideia é ser feliz. E, para que isso aconteça, “consumar um desejo” desaparece e surge “consumir um desejo”. Por causa desse equívoco, a medição de sentimentos fica ainda mais complicada. O que é avaliado, ao invés do prazer causado por certa ação, é a expectativa da felicidade.
O autor diz que, quanto mais educada e culta a pessoa for, mais difícil de se saciar ela será, e que os desejos tornam-se cada vez mais sofisticados ou caros. Enquanto o prazer está relacionado à cultura e conhecimento para alguns, a ideia de prazer para outros está ligada a posses materiais.
O problema nessa estrutura é que poucas pessoas adquirem educação suficiente para atrelar sua felicidade a conhecimento. O que acontece, na verdade, é que aqueles cujos desejos estão orientados dessa maneira raramente buscam felicidade, mas realização pessoal. Isso acontece porque, à medida em que acumula informações e opiniões, o indivíduo entende a dinâmica do prazer x sentimento e passa a não obedecer tanto o instinto de fuga do sofrimento.
O texto diz que somos tudo aquilo que desejamos. Isso pode ser confirmado pelo fato de que, a cada realização conseguida, o sujeito passa a estender seu campo de visão e a querer mais. Desse modo, comprometemos a indústria da utilidade e passamos a criar demanda para a indústria da fantasia, e esse é um dos maiores trunfos do discurso vigente no mundo de hoje (o capitalismo) sobre a população. Criado por nós mesmos, resta a pergunta: até onde o desejo pode nos levar?
FERNANDO CARIS DE ALMEIDA - 06005879
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