“Nossos gestos e realizações artísticas estão prenhes das experiências anteriores e fazem emergir o novo no velho, em que pese nossa capacidade inominável de ser originais recriando o que já é vida”. (WANDELLI, Raquel. O Passado Rejuvenecido).
No trecho de “O Passado Rejuvenecido”, a autora coloca como as novas realizações estão presas a experiências anteriores. Com isso, a idéia do hipertexto como novidade deixa de existir. No caso, se o presente se alimenta do passado, sua única matéria-prima, a filosofia do hipertexto não pode partir de um grau zero.
É essa perspectiva do velho criando o novo, da apropriação do passado, que acaba com qualquer idéia de tratar do hipertexto como vanguarda - algo à frente do tempo. Um texto dadaísta é perfeitamente considerado hipertextual, já que cada um pode ler de uma maneira diferente.
A prova de que o hipertexto não é algo novo, pode ser dada após analisar algumas obras literárias. Dentro de um próprio livro, o autor utiliza de estratégias que levam a interatividade: a divisão em capítulos, subcapítulos, prólogos, por exemplo, ajuda a mapear a obra e propicia o deslocamento da leitura que pode ser feita de acordo com a vontade do leitor. Se a interatividade está, entre outras coisas, no potencial de habilidade de uma mídia permitir que o usuário exerça influência sobre o conteúdo, de ele poder decidir, no caso, por uma leitura não linear, a obra literária cumpri corretamente com esse papel, tirando do hipertexto essa originalidade.
A relação clara da apropriação de tecnologias passadas em atuais pode ser observada também ao analisar os menus da página de um site de notícias, por exemplo. Eles funcionam de modo semelhante ao sumário de uma revista, permitindo que o leitor escolha o percurso de leitura que quer seguir, o que caracteriza a literatura hipertextual.
Com tantas possibilidades, o hipertexto ainda é costumeiramente analisado apenas pela questão técnica, associado ao meio digital. Essa análise superficial normalmente se dá pela questão da interatividade que é muito associada com idéias de jogos digitais e estratégias, por exemplo, ligados diretamente ao meio digital.
O hipertexto ainda é visto como algo abstrato, que falta unicidade, conceito, definição. A freqüente discussão do conceito como algo digital, o empobrece, porque deixa de fora todo o passado que levou a “criação” do hipertexto como é visto hoje.
Quem vê o hipertexto como algo inovador, que muda a forma como a leitura e a escrita podem ser feitas, como uma criação que veio com as novas tecnologias, com o meio digital, deixa de buscar sua história: obras e autores que quebraram com a linearidade do texto impresso e que, muito antes da criação de tecnologias digitais tem o hipertexto presente em suas obras.
Ana Valéria de Loiola Santos - 06006223
domingo, 28 de junho de 2009
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