As nossas produções não são totalmente novas, elas sempre são produtos de nossas experiências anteriores e referências de objetos, textos, ilustrações, vídeos, fotos e qualquer outro tipo de expressão comunicacional já criadas. No texto o Passado Rejuvenescido de Raquel Wandelli (2003) diz que a noção de hipertexto ainda está em processo de construção e sedimentação, mas que se sabe que ele é a convergência entre teorias e experiências tecnológicas.
Ora, se o hipertexto tem essa definição, ele é a junção do passado, presente e futuro, que não obedece a uma ordem linear, mas que interligue todas as referências sem pensar no modo de expressão de forma atemporal.
Fazendo relação com a Teoria Geral dos Sistemas, podemos dizer que o hipertexto tem uma forma de memória, uma tendência à permanência, já que nele estão contidos no passado que interfere diretamente no futuro de qualquer processo criativo. O livro Pessoas do Século Passado é organizado por Dodô Azevedo, que reuniu vários e-mails de pessoas com diferentes estilos de vida e idades, assim ele fez a composição de um painel para descobrir o que o último século representou em suas visões particulares, construindo uma memória coletiva.
Azevedo foi inspirado pelo Jogo da amarelinha, de Cortazar, ou seja, retomamos a idéia de que uma idéia nunca é totalmente original. Importante ressaltar que isso não é um aspecto negativo, ele acaba enriquecendo o projeto.
A não-linearidade permite que o leitor faça a leitura de acordo com a seqüência desejada. ''Investigo a hipertextualidade antes do advento da internet, em obras como o Dom Quixote, de Cervantes, e a Bíblia Glosada, de São Tomás de Aquino'', explica Azevedo. O hipertexto não surgiu do computador, ele já existia nos poemas da literatura ocidental do primeiro milênio e nos haikais da tradição oriental que permitiam várias entradas e saídas do texto. Limitar o hipertexto apenas ao aparato tecnológico é eliminar justamente a essência do hipertexto, que é a orquestrar o passado e o presente, já citado anteriormente.
Fazendo a reconstrução entre prática e teoria, o projeto Pessoas do Século Passado é o site que terminou
Através de vários suportes (livro, site, festas, CD) e autores diversos, o projeto pretende fazer com que seus participantes se reconheçam como produto do século 20, no que ele tem de melhor e de pior - e de mais característico. Por ser um projeto de vários autores, voltando ao texto de Wandelli podemos fazer relação com perda do espelhamento do autor na pessoa do escritor, para multiplicar a obra em um “jogo de vozes narrativas”.
A importância agora é centrada no leitor, por que vai ser ele que vai dar sentido a obra. Vemos aqui que o livro/site é composto apenas por leitores que após se interessarem pelo projeto, viram compositores. O interesse é gerado pelos próprios leitores, ou seja, ele pode ser direcionado conforme os acontecimentos do presente e do futuro, de relações internas e externas. Podem até existir diálogos entre os artigos, produção multimidiatica e entre os próprios leitores/escritores.
O processo de desdogmatização também esta presente no projeto de Dodô, como a teoria da intertextualidade que conta com a tessitura de significações em um texto; a descentralização do escritor ou a fragmentação do autor em diversas vozes e funções; idéia do texto como produtividade, que se desprende da disposição estática das paginas (aqui no caso o projeto transita entre texto e multimídia em paginas soltas) e a teoria da recepção, “mostrando que o sentido de uma obra não pode ser estabelecido fora da interação com o leitor” (Wandelli, 2003).
O hipertexto então é a junção de vários recursos multimidiaticos atemporais, que cresce na insubordinação contra a linearidade, que sempre impõe uma hierarquia que não existe no pensamento, sendo assim a linearidade uma característica que vai contra a natureza da mente.
Assim como nosso cérebro, na literatura hipertextual cada nó por sua vez pode conter uma rede inteira. Fazendo relações entre o passado e o futuro os personagens do Pessoas do Século passado como Personagens como a dentista Cristiana Gernalt que com relatos que contêm uma leve amargura convivem com um otimismo que o livro suscita, sugerindo que o fim do século que nos leva para um futuro melhor: ''Aí é sábado de chuva, vocês dois têm a tarde livre e resolvem passá-la namorando debaixo do edredom. Ele diz, Olha, preciso deixar o telefone ligado porque estou esperando uma ligação de uns importantes suecos. Ela conclui, com razão, que ele está ali (no edredom) e lá (no escritório) ao mesmo tempo - uma transcendência borra-botas, uma necessidade otária de transcendência''.
Munique Lima - 06005333
E no que deu o projeto?
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