quarta-feira, 24 de junho de 2009

Reconhecimento do outro no hipertexto

Alteridade: do dicionário “Caráter do que é outro; diversidade, diferença”. “Existência do “eu individual” só é permitida mediante um contato com o outro”. É interessante pensar que dependemos do outro para termos percepção de nós mesmos. É pelas características do outro com quem nos relacionamos que descobrimos quem realmente somos. De certa forma volta ao ditado popular: “diga-me com quem andas...”
Quando se está sozinho, não existe a individualidade. É preciso se reconhecer naqueles com quem nos relacionamos para termos consciência de nós mesmos como indivíduos. Uma pessoa que tenha sido criada sozinha não teria essa consciência. É na relação com o outro que temos consciência de si. Mesmo assim, não vemos realmente o outro, fazemos uma edição dele. Não o vemos por completo. Percebemos não as características dele, mas a que temos, ou gostaríamos de ter. É reconhecer a si no outro.
Talvez seja por isso que há tanta dificuldade para entender e aceitar certas culturas que são muito diferentes da nossa. Há completa falta de identificação, de reconhecimento. Por exemplo, as mulheres do oriente médio, que para nós é difícil entender porque elas são tão submissas aos homens. É difícil compreender que culturalmente é assim. Falta nos reconhecer nelas.
No hipertexto essa relação se mantém. Porém a posição de hipertexto é de inclusão, (falamos aqui do hipertexto no contexto, suporte digital). O discurso é que ele tem capacidade de incluir e integrar a todos, qualquer um que tenha acesso a ele. Todo o alarde do hipertexto é que ele tem espaço para as diferenças. E não é isso o que realmente acontece.
A questão é que o hipertexto não inclui o outro (aquele que é diferente, no qual não nos reconhecemos). Este continua de fora. Apesar da interatividade e dos links, não há realmente conexões, relações, não são construídos relacionamentos. As ligações entre seus usuários são muito frágeis. A exclusão do outro continua na hipermídia, continua a lógica de ilhas.
E o modo como o outro é excluído no hipertexto é o mesmo que acontece fora dele. O esvaziamento. Ao esvaziá-lo, torna-o diferente. Assim, ele passa a ser excluído. É talvez, a forma mais fácil de dominar alguém, e a mais eficaz também. O movimento natural daquele que é excluído por ser diferente é tentar mudar e se integrar a maioria. Nesse momento ele está dominado.
Para haver realmente inclusão de todos, aceitação das diferenças, não devia haver tanto controle. O que se dizia era que seria um espaço livre, e não foi isso o que se realizou realmente. Exemplo disso são os sites. A escolha de onde por o link, no momento da criação desses sites, é uma decisão forte, porque visa dirigir o usuário para certo conteúdo. É uma das formas de controle que o hipertexto oferece.

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