sábado, 27 de junho de 2009

Da Linguagem Oral à Linguagem da Hipermídia

“Os mitos revelam o fundo da alma. O fundo da alma – não da mente é repleto de imagens incomuns, bizarras, inesperadas, que chocam e exasperam a mente consciente porque a desafiam como a provar-lhe que aquilo que chama de realidade é apenas um arranjo temporário e artificial das coisas. A linguagem mítica subverte a ordem das coisas, provocando releituras do mundo. Um mito contém tanta verdade sobre a natureza do real quanto a mais profunda intuição da psicologia do inconsciente.
A cultura oral possibilita um liberdade de criação, de interpretação e de expressão, que não existe na cultura escrita. Já que a cultura escrita é ensinada para a civilização como um ciclo vicioso, cheio de padrões, onde todas as pessoas pensam da mesma forma e limitam-se ao que já foi pensado. Ela passa então a dominar o instinto conservativo e espiritual da sociedade.
“O espírito científico, em contrapartida, proíbe-nos de ter uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular claramente. É preciso, antes de tudo, saber formular problemas”.( Bachelard 1984:166)
A narrativa oral nos traz possibilidades de escolha, de viver uma busca de compreensão do conhecimento, a partir de uma liberdade de criação que vai além dos padrões estruturais, racionais e estéticos. Outra característica única da oralidade é o envolvimento do corpo que se torna um instrumento, da voz, do gesto ou da expressão, pela qual a narrativa é desenvolvida.
A cultura oral é uma das responsáveis pela construção e transformação da identidade cultural e nacional da nossa civilização. O estudo citado no texto como fundamento para se entender a importância da cultura oral e dos mitos é o de Betty Mindlin, em sua pesquisa sobre diversos grupos indígenas com destaque pelo seu trabalho Terra Grávida. Ao buscar o entendimento das línguas e expressões utilizadas pelos entrevistados e registrar suas histórias, ela apresenta informações relevantes sobre os povos e um material valioso para a temática e formação dos professores indígenas.
Esse trabalho, aprovado e reverenciado até por Levi Satrauss, um dos antropólogos mais conhecidos e respeitados na antologia ameríndia traz um conhecimento que revela mundos ricos e desconhecidos no Brasil e que o preconceito e os interesses econômicos tem feito calar.
Se quisermos ser efitivos no entendimento da nossa identidade nacional e na educação para a diversidade, temos que valorizar tudo aquilo que diz respeito à nossa ancestralidade e às raízes de nossa terra.
Por isso é importante nunca esquecer dos mitos, que remetem as nossas raízes e não se deixar os valores estéticos da escrita nos aprisionar em um ciclo vicioso, que não abre a possibilidade de criação e do imaginário. Precisamos reconstruir e ampliar as possibilidades de criação estética e conceitual, de capacidade de perguntar e buscar capacidades especificamente humanas.

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