sábado, 27 de junho de 2009

O passado rejuvenescido

No começo de seu texto, Raquel Wandelli explica o quanto o hipertexto, ao invés de uma nova forma de escrita, pode ser o resultado de um processo de construção e organização de pensamentos, conceitos, escritas, próximos ao nosso pensar e que, em algum grau, já estavam sendo explorados em diversas obras ao longo dos séculos.
No decorrer do texto, são expostas teorias que, de alguma forma, validam a qualidade e as funções que tem o hipertexto como ferramenta articuladora de um discurso mais livre e menos fechado aos processos de escrita tradicionais. Além disso, são retomadas questões como a crise no conceito de autor, além das múltiplas conexões possíveis ao hipertexto, explicadas a partir do conceito de rizoma de Deleuza e Guattari.
É interessante notar que Raquel, em seus argumentos, se utiliza de autores de naturezas distintas para explicar o hipertexto. Diferentes teorias parecem ser tiradas de seus contextos originais e recolocadas lado a lado no texto. Não que isso não faça sentido, mas a pergunta é até que ponto o texto de Raquel, ao se utilizar dessa técnica de “mosaico”, não valida um tipo de comunicação que é exatamente o problema atual?
A autora parece misturar autores tão diferentes, simulando a idéia de “links”. Na verdade, o mosaico que parece seu texto tem uma estrutura bastante semelhante ao pensamento de hipertexto. Isso claramente reforça um conceito no qual se trabalha (construí-lo exatamente da maneira a qual se defende), mas o resultado parece conter uma fragilidade maior do que o esperado. Se eu justaponho as partes, se construo uma obra recheada de fragmentos, de diferenças, crio uma ligação frágil. Como num link de hipertexto, a superficialidade pode facilmente fazer com que eu me perca na navegação por temas diferentes. Se o hipertexto parecia trazer possibilidades para a questão de informação mais livre, sua fragilidade gerada pelo mosaico de diferenças, o imenso conteúdo informacional, acaba gerando desinformação, uma vez que esse acumulo (além da indiferença que isso gera) nos leva à um esvaziamento dos sentidos.
Muito além do que a tentativa de fazer com que o sentido passe por um centro regulador, é mais pertinente pensar então qual o sentido possível quando todos os caminhos para se chegar a ele mostram-se numa evidente superficialidade. Não se trata de excluir o número de possibilidades, dado o grande número de conexões, mas essas conexões não se sustentam o suficiente. A dúvida e as incertezas que um sentido poderia trazer (uma vez que ele deve ser cercado desses elementos), são substituídos por verdades provisórias, frágeis, que podem desmoronar ao menor abalo ou quando menos se espera.
A questão não é se hipertexto é um problema ou uma solução, mas é interessante notar se ele é usado de maneira a buscar novas possibilidades. Pois, se ele simplesmente retoma os mesmos problemas de comunicação não resolvidos (ou mesmo aceitos) pelos meios anteriores, o investimento nessa linguagem parece então extremamente inútil.

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